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Água abundante para todos os lados |
- Como foi sua viagem a Pereira Barreto?
- Andei por aquelas bandas, em uma viagem a cavalo, há muitos anos. Saímos, meu primo José Carlos de Brito, o Zé, e eu, a perambular pela região, indo da Fazenda Santa Marina, distante 80 quilômetros de Araçatuba, até Andradina. Acompanhamos uma comitiva que levava o gado de uma propriedade para a outra. Passamos muito frio dormindo ao relento em nossas redes, que não eram abrigo seguro contra o vento que parecia atravessar os nossos corpos cansados. Apreciamos o tereré – bebida inicialmente amarga, pois a mistura de mate com a água fria dos córregos resultava numa poção sem graça –, que constituía a alegria dos peões quando relaxavam por momentos durante a dura jornada. Isso nos idos dos anos 70, quando Pereira Barreto ainda era uma localidade pacata, quase esquecida dos demais centros urbanos, que viviam a "febre zebuína" de criação e aprimoramento da raça nelore. Tinham surgido então os reis do gado em Araçatuba: Ovídio Miranda Brito e Tião Maia, os todo-poderosos do Noroeste Paulista, que desbravavam o Brasil em busca de terras férteis para estabelecer os pastos que engordariam o seu gado e alimentariam as suas fortunas. Faz muito tempo, meu amigo! Muito tempo... Naqueles dias, éramos dois guris apaixonados pela mesma garota, a inesquecível araçatubense Elaine Benez.
Prática de basquete às margens do rio |
No cemitério, indícios da relação entre a história da cidade e a imigração japonesa |
Pedalada diária saudável até a escola |
A pescaria convencional movimenta a economia local |
Prainha, orgulho dos pereira-barretenses |
Design futurista de bar em praça central |
- Ufa!!! Como você fala! Deixe-me, então, relatar como foi minha experiência por lá. Mas por que pensar em Pereira Barreto, logo hoje? Você se encontra em Londres e me parece bem distante dessa nossa realidade, concorda?
- Sim, concordo em parte: encontro-me fisicamente, sem dúvida, distante do Brasil. Estou jantando em um pequeno restaurante italiano, no nervoso centro da capital inglesa – Picadilly Circus –, onde os jovens, em grupos barulhentos e alegres, buscam viver o "saturday night fiever" (a febre do sábado à noite). Percebo várias tribos e legiões urbanas que passam pelas ruas movimentadas, enquanto ouço o saudoso tenor Pavarotti executando uma conhecida peça de seu repertório, criando um adorável clima romântico no salão, e aguardo pacientemente o prato que solicitei ao garçom. Volto a pensar em Pereira Barreto.
- Pereira Barreto, Pereira Barreto... Hummm... Quem foi Pereira Barreto?
- O doutor Luís Pereira Barreto foi um médico renomado e muito competente, a quem homenagearam quando o distrito de Novo Oriente foi elevado à categoria de município. A Companhia Colonizadora do Brasil, empresa responsável pela introdução de imigrantes japoneses na vasta extensão de terras por ela comprada, entre os rios Tietê e São José dos Dourados, foi quem fundou a localidade que mais tarde se tornaria esta cidade paulista. Localidade, aliás, que abrigou multidões de pessoas vindas de longe para tentar a sorte em solo americano, distante, muito distante da realidade oriental da Terra do Sol Nascente.
- Pereira Barreto tem, então, sua história muito ligada à cultura japonesa, não é mesmo? Basta prestar atenção aos nomes dos logradouros públicos e das personalidades locais.
- Como assim? Não entendi o seu raciocínio.
- Praça Carlos Kato, senhor Sérgio Massuda, entre outros nomes, são exemplos da perfeita integração entre os povos que hoje representam a perfeita harmonia nipo-brasileira.
Relógio de quatro faces construído em um cruzamento |
- Você foi à Praia do Pôr do Sol?
- Sim, fui. O sol continua presente como símbolo nesse local aprazível aonde você pode banhar-se nas águas claras e limpas da Represa. Outros atrativos como o templo de madeira Goju-No-Moto-Risaburo Murai, uma réplica do local onde os samurais deixavam livros sagrados e jóias; o Canal Pereira Barreto – segundo dizem, o segundo maior do mundo e importante elo entre as águas dos reservatórios de Três Irmãos e da Ilha Solteira –, os passeios de barco, os pesqueiros, as embarcações que deslizam pelo tramo norte da Hidrovia Tietê-Paraná, a qual interliga os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás; a Casa de Cultura...
- Espere! Deixe-me salientar que tudo mudou nessas últimas quatro décadas: hoje, Pereira Barreto é uma “ilha”. Isso para nós era impensável, inadmissível, pois a agropecuária reinava absoluta como a principal atividade econômica da região. Era uma pequena cidade pacata, arborizada, um lugar bom para se viver...
- E ainda é, meu amigo. Aparentemente os prefeitos eleitos têm prestado bastante atenção às questões ecológicas, relativas à preservação da natureza, em respeito ao imenso patrimônio ali existente: a água! É uma urbe sossegada, um local turístico ainda autêntico, embora, como já dissemos, o presente seja resultado das mudanças enormes provocadas pela engenharia humana.
Final de tarde na aprazível cidade |
- Quem naqueles tempos poderia imaginar que Pereira Barreto ficaria, com o passar dos anos, rodeada de águas por todos os lados?
- Que seja também uma ilha de prosperidade!
- Oxalá!
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