São muitas as andanças minhas pelo país onde pratico a mendicância cultural.
Vivo em aeroportos, rodoviárias, estradas de terra, auto-estradas e em céus de brigadeiro ou surfando em nuvens carregadas e voos periclitantes.
Vejo pessoas sorridentes, semblantes aflitos, cilhares perturbados ou curiosos por onde passo.
Abro porteiras, passo por mata-burros, pulo cercas, me abrigo na sombra de árvores frondosas ou degusto um café saboroso em um posto de gasolina e aprecio o burburinho de viajantes apressados e imersos em seus próprios mundos.
- Qual é o seu sonho? - pergunto ao jovem funcionário que passa o dia sentado dentro de pequena cabine de pedágio na rodovia Eurico Gaspar Dutra.
- Meu sonho é conhecer São Paulo, afirma o franzino empregado da concessionária milhardária.
Tomo a cerveja em bar simples onde compenetrados clientes jogam sinuca ou assistem impacientes a um jogo de futebol.
Nos supermercados, em farmácias, nos transportes coletivos, reparo o semblante tenso dos brasileiros incrédulos ao ver a nação ruir e seu garantido emprego tornar-se ficção ou lembrança de um passado outrora estável!
- Antes eu curtia uma balada, me divertia, frequentava restaurantes bons e viajava sempre nos fins de semana...
- Mas a leitura não te faz companhia? A curiosidade não movimenta o teu cérebro? O sentimento de solidariedade não o aproxima dos necessitados? O desvairo político não o revolta?
Converso, troco ideias, descubro talentos aprisionados, mergulho em sonhos e me deixo levar pela natureza nos campos, nos cerrados, nos vôos lusco-fusco dos vaga-lumes que nos levam ao profundo mistério da natureza.
Sinto-me pleno e feliz por estar imerso no Brasilzão.
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