- Sinto-me sufocado hoje... - Por que? Acaso está com algum problema de saúde? | | Caravanas de aventureiros do Sul do país desbravam os horizontes planos de Marajó | Durante a época das chuvas todos convivem com a água. | - Não! A razão é outra: viver em uma cidade grande como São Paulo é muito complicado! Diariamente tenho a impressão de estar fora do meu mundo, totalmente deslocado do local que seria o ideal para eu levar minha vida. - Você não está sendo pessimista ou sonhador demais? O comércio informal nas ruas de Cachoeira do Arari |
- Talvez... Ocorre que, meses atrás, segui com um grande amigo para o Norte brasileiro. Debaixo de muita chuva, em um clima por si só bastante quente e úmido, tomamos o barco que nos levaria de Belém do Pará até a ilha de Marajó. Durante o trajeto, enquanto as nuvens pesadas se afastavam e o sol timidamente derramava seus raios sobre as águas turvas da Baía do Guajará, eu permaneci ansioso, sentindo uma sensação de felicidade plena, afinal, após tantas tentativas, eu iria finalmente conhecer a maior ilha fluviomarinha do planeta. - E o seu amigo, partilhava contigo esse sentimento? - Qual o quê! Dormia placidamente no banco de madeira da rústica embarcação. Não o culpo, já que o suave balanço do barco e o monótono barulho do motor convidavam mesmo os viajantes para uma soneca. Eu porém permanecia expectante, imaginando a riqueza da vida subaquática naquela imensidão de rio. - O que mais o impressionou por lá?
A pequena igreja de Cachoeira do Arari. | - Ah, foi Cachoeira do Arari! Uma pequena localidade à beira do rio, com uma igreja singela e bela. O local ideal para quem busca um pouco de paz nos confins deste país gigante. - E como foi que você chegou lá? Sempre ouvi dizer que a locomoção através da ilha não é muito fácil... - Graças à Prefeitura de Salvaterra. - A Prefeitura? - Sim! Depois de convencermos o prefeito sobre a importância de nossa missão - registrar a realidade da ilha para um guia turístico-cultural do Pará -, conseguimos levá-lo a nos emprestar o único veículo disponível no momento, uma velha perua Kombi com pneus carecas. Veículo que, por sinal, era dirigido por um jovem motorista afoito, cuja principal distração era jogar o quatro rodas sobre os animaizinhos que se aventuravam a atravessar a estrada... A prefeitura de Salvaterra cedeu o único veículo que tinha para o ensaio fotográfico | Pelas ruas tranqüilas de Cachoeira do Arari | - Que loucura! - Se é! Porém a aventura para chegar a Cachoeira - com seu pequeno mercado e seus moradores caminhando nas ruas enlameadas pela chuva - teve o condão de me remeter a um Brasil profundo, desconhecido da maioria das pessoas; um Brasil onde a vida pulsa em completa harmonia com a natureza e dominada pelos caprichos do ecossistema da região. - Por que você pensa nisso agora? | | Portal com motivos marajoaras | Relíquias marajoaras no Museu da cidade |
- Porque é nessas ocasiões que eu me sinto um brasileiro na completa acepção da palavra. Indo para esses lugares distantes e esquecidos, percebo que minha mente se encontra no Norte do País, minha razão no Paraná, meu coração em Minas Gerais, minhas esperanças em Goiás, minha descontração na Bahia... Enfim, vejo-me um pouco em cada recanto desse nosso querido Brasil. E isso me faz feliz, embora, de certa forma, eu também fique triste ao constatar que muitos brasileiros não respeitam a pátria em que vivem... |