Eleições 2022: Análise dos números de Varginha ; Ressaca eleitoral e desdobramentos políticos
Eleições 2022: Análise dos números de Varginha
Conforme vinha dizendo a coluna, as chances de sucesso dos candidatos locais eram muito baixas. Os nomes mais conhecidos, que buscavam a reeleição tiveram vantagem e mostraram sua superioridade nas urnas. Aliás, em que pese as desconfianças, o sistema eleitoral parece ter funcionado bem, embora tenhamos alguns números “incompreensíveis político e ideologicamente”, os quais vamos falar em breve. Entre os candidatos a deputado estadual com maior relevância na região, tivemos a reeleição do deputado Professor Cleiton Oliveira (PV) que foi majoritário em Varginha. Também reeleito, o deputado estadual Antônio Arantes (PL), ligado ao setor ruralista, conseguiu quase 120 mil votos! Contudo, o deputado estadual Dalmo Ribeiro, conhecido na região de Ouro Fino e Vale da Eletrônica não conseguiu a reeleição. Quanto aos números das votações locais, mais uma vez ficou claro que o eleitor de Varginha não foi sensibilizado para votar em nomes de Varginha. Isso é facilmente comprovado quando vemos que o candidato local Carlos Honório Ottoni Junior (Honorinho), melhor votado entre os nomes locais, obteve apenas 13,32% dos votos. Ou seja, menos votos que os votos brancos (10,43%) e nulos (5,83%) somados! Os demais candidatos a deputado estadual por Varginha tiveram votações ainda menores que Honorinho, como Zilda Silva (PP) com 7.169 votos (10,32%) dos votos válidos, ou Bruno Araújo (Novo) que conseguiu pouco mais de 2.300 votos em Varginha. Outra prova de que a população de Varginha não se mobilizou para eleger candidatos locais é que o deputado estadual Bruno Engler (PL) obteve 8.652 votos em Varginha (12,45% dos votos), sem tem qualquer atuação política na cidade, além de sua forte relação com o presidente Bolsonaro. Aliás, os votos para presidente apurados em Varginha mostraram que Bolsonaro é forte na cidade e conseguiu passar votos a seus escolhidos, mesmo que não tenham relação direta com a cidade
Eleições 2022: Análise dos números de Varginha – 02
Os candidatos locais a deputado federal também tiveram baixo desempenho em Varginha e não conseguiram sensibilizar o eleitorado local a eleger nomes novos identificados com a cidade. O ex-reitor do UNIS, Stefano Gazola concorreu a vaga de deputado federal pelo Solidariedade e foi o melhor colocado entre os candidatos locais obtendo 11.599 votos, ficando na suplência. Gazola precisaria de votação superior a 50 mil votos para se eleger. Outro nome local que também disputou para a federal foi Zacarias Piva, que obteve 2016 votos, Varginha poderia eleger 2 deputados estaduais e um federal, contudo, pela divisão dos grupos políticos locais, diversos nomes saíram candidatos e o eleitorado, mais uma vez, foi dividido e ninguém dos nomes locais chegou a vitória. Vale destacar, ainda, que a falta de união das lideranças locais também trouxe a Varginha dezenas de outros candidatos que não possuem identificação com a cidade, contudo, levaram boa parte dos votos locais. Tal divisão do eleitorado com votação em centenas de candidatos sem identificação com Varginha não contribuiu para a construção de compromisso do eleito com a cidade. Uma vez que Varginha votou em centenas de candidatos, mas não “fez a diferença ou foi decisiva para qualquer dos eleitos”. Logo, é pouco provável que tenhamos como cobrar obras e recursos de deputados que tiveram cento e poucos votos aqui na cidade. Em âmbito federal Varginha permanece com dois deputados no Congresso Nacional, que embora não sejam varginhenses, tem dado apoio ao município. Diego Andrade (PSD) e Dimas Fabiano (PP). Outro nome que retornou a atuar forte em Varginha foi o petista Odair Cunha (PT). O federal majoritário em Varginha continua sendo Dimas Fabiano que conseguiu 6.593 votos na cidade, seguido pelo deputado federal petista Odair Cunha (5.427 votos), ficando em terceiro o deputado Diego Andrade com 2.495 votos. O ex-vereador de Varginha, Zacarias Piva, que também disputou vaga para a Câmara Federal amargou uma baixa votação com 2016 votos. Piva reduziu as votações que vinha tendo para deputado e tal baixo desempenho pode impactar nas suas próximas disputas políticas.
Dificuldades e incompreensões dos resultados
A disputa à presidência da República norteou todos os demais resultados em Minas Gerais. Prova disso foram as boas votações de nomes ligados a Bolsonaro e também ao ex-presidente Lula. A eleição em primeiro turno deu uma maior vantagem aos bolsonaristas, que elegeram boa parte de sua bancada com votações recordes. A exemplo do deputado estadual Bruno Engler (mais de 600 mil votos) e do deputado federal Nikolas Ferreira de Oliveira (quase um milhão e meio de votos), ambos são do Partido Liberal (PL) alinhado ao presidente Bolsonaro. Outros dois casos emblemáticos foram do candidato ao Senado Cleitinho Azevedo (PSC) que ganhou a disputa com 4.268.193 (quatro milhões, duzentos e sessenta e oito mil, cento e noventa e três) votos (41,52% dos votos válidos). Cleitinho declarou apoio a Bolsonaro e Zema no meio da disputa, embora fosse alinhado ao presidente na maioria das pautas políticas e de costumes. Já o governador Romeu Zema, do Partido Novo, foi reeleito com 6.094.136 (seis milhões, noventa e quatro mil, cento e trinta e seis) votos, que equivalem a 56,18% dos votos válidos. O candidato oficial a senador apoiado por Zema foi o parlamentar Marcelo Aro do Partido Progressista, que ficou na terceira colocação com 2.025.573 (dois milhões, vinte e cinco mil, quinhentos e setenta e três) votos, o que representa 19,70% dos votos válidos. É compreensível e possível dizer que o perfil do eleitor de Zema seja muito próximo dos eleitores de Cleitinho ou mesmo de Marcelo Aro. A grosso modo, os mais de 6 milhões de votos que Zema conseguiu pode ter dado origem aos 4 milhões de votos de que elegeram Cleitinho, bem como aos 2 milhões de votos dados a Marcelo Aro. O perfil de ambos é semelhante, o que ocorre também com seus eleitores. Embora não seja impossível, é pouco provável que um eleitor vote num candidato ao senado ou governador liberal como Cleitinho ou Zema e depois vote num candidato a presidente com o perfil de Lula, por exemplo. Da mesma forma que o eleitor de Bolsonaro para presidente, dificilmente votaria num deputado federal ou estadual do PCdoB, ou em Fernando Pimentel do PT. Isso porque os perfis dos candidatos são antagônicos e o eleitor de ambos são diferentes. Logo, se os candidatos de perfil liberal e ligados a direita como Zema (6 milhões de votos para governador), Marcelo Aro (2 milhões de votos para senador) e Cleitinho Azevedo (4 milhões de votos para senador) isso indica que tais eleitores devem ter escolhido para presidente também um candidato com o mesmo perfil (liberal e de direita), como Bolsonaro ou Felipe Davila. Contudo isso não ocorreu visto que Bolsonaro e Felipe Davila tiveram 5 milhões de votos em MG. Fica a pergunta: Será que cerca de um milhão de eleitores em MG votaram em Zema e Lula? Ou quase um milhão de eleitores de perfil liberal e de direita resolveram votar apenas para senador, governador e não votar para Presidente da República? Estranho!
Ressaca eleitoral e desdobramentos políticos
A eleição de primeiro turno acabou, mas a ressaca eleitoral vai ficar por muito tempo. Primeiro porque os candidatos locais tiveram menos votos que o esperado, o que não é propriamente uma vergonha, mas mostra que Varginha não tem uma liderança municipal consolidada que unifique o eleitorado, muito menos as lideranças partidárias locais, o que é uma informação importante para as eleições de 2024, logo ali! Em segundo lugar, vale dizer que os candidatos oficiais (a estadual e federal) do prefeito Verdi Melo perderam e o município vai precisar “restabelecer as pontes com os deputados reeleitos para que Varginha não fique sem defesa em âmbito estadual e federal”. Neste ponto, os deputados federais Dimas Fabiano e Diego Andrade, ficaram “desapontados com o governo municipal”, pois esperavam apoio do governo Verdi, o que não ocorreu na medida esperada. Já em âmbito estadual, Professor Cleiton Oliveira (PV) não esperava mesmo apoio de Verdi, mas recebeu apoio da oposição ao governo municipal (PT, Rogério Bueno etc). Sem falar que o deputado estadual Dalmo Ribeiro, que apoiava a gestão Verdi Melo, não foi reeleito, deixando assim a gestão municipal “órfão de deputado estadual”. Ou seja, se Verdi Melo sentiu-se “empodeirado por lançar candidato próprio a estadual e federal, abandonando parlamentares que o ajudaram no passado, agora é o momento de rever tais desligamentos e retomar contatos abandonados em nome de Honorinho e Stefano Gazola”. O Partido Progressista do vice Leonardo Ciacci tem o que comemorar, pois reelegeu Dimas Fabiano colocando-o como majoritário. Contudo, a candidata a deputada estadual do PP (possível nome para o Executivo em 2024) conquistou pífia votação, ficando atrás dos votos brancos. O que mostra que a legenda tem deputado forte, mas não tem candidato a prefeito forte! “Já no PTB de Honorinho e Solidariedade de Stefano Gazola, as legendas fazem cálculos e estratégias para ver o que pode ser aproveitado de 2022 em 2024”. Honorinho e Stefano precisam definir se vão utilizar o trabalho destas eleições para alguma ação política em 2024. Vontade e estímulo sabemos que existe! Resta saber as autoridades políticas locais vão conseguir se unir em torno de dois nomes, ou vão dividir como ocorreu nestas eleições de 2022! Ciacci quer substituir Verdi, mas não tem a confiança de toda a base aliada. Honorinho (que deve voltar ao governo municipal) deixou claro com sua votação de agora, que não tem potencial de votos para ser prefeito neste momento. Stefano Gazola viu que sua força no UNIS iguala-se a dos demais mortais fora do centro universitário”. Já Zacarias Piva, que vinha com votações crescentes em Varginha parece já ter cansado o eleitorado ou perdido força em sua base. Ou seja, 2022 mostrou que não há favoritos para as eleições de 2024. Afinal, a soma de brancos de nulos das eleições de 2022 deu mais de 15 mil votos, votação que ninguém tem hoje como candidato na cidade!
O velho Novo vai sumir?
A eleição de Romeu Zema, do Partido Novo em 2018, foi um marco na história da legenda que iniciou sua trajetória naquele momento com bons nomes vindos da iniciativa privada e alguns poucos políticos ficha limpa. Mas como toda organização composta por humanos, é falha! Primeiro o Partido Novo iniciou sua “seleção de integrantes fazendo uma separação fria do que seria “pessoas honestas ou não, condenadas ou não, baseado praticamente em processos em andamento na Justiça ou mesmo no tempo de vida pública de muitos que dedicaram a vida ao Poder Público. O resultado disso foi que, a exemplo do PT quando surgiu a 20 anos, o Partido Novo partia do “princípio que quem estava filiado a qualquer legenda que não fosse o Novo, não seria bom ou honesto o suficiente”. A legenda começou sozinha, mas para crescer precisa interagir com a sociedade, os demais partidos e os setores econômicos. O Novo conseguiu interagir com os setores econômicos, sendo exemplo para muitos empresários. A legenda, contudo, não chegou a toda sociedade, ficou restrita à classe média alta e grandes empresários. Com isso sua filosofia e meritocracia, princípios liberais da economia não chegaram nem foram compreendidos pelo povão. Por sorte, o Partido Novo conseguiu o governo de Minas, onde Romeu Zema fez um bom governo e conseguiu se comunicar com o povo, mas não pela filosofia do partido e sim por seu próprio jeito de fazer política. O resultado foi que, em Minas, Zema é maior que o Partido Novo. Prova disso é que o governador foi reeleito com quase 60% dos votos, mas a bancada do Partido Novo diminuiu na ALMG e também no Congresso Nacional. Nomes bons da legenda não foram reeleitos para os parlamentos do Brasil. A legenda não cumpriu os requisitos mínimos de votação no Brasil para possuir uma bancada, por exemplo, a legenda já não usava o fundo partidário por convicção, mas agora será por ineficiência eleitoral. Além disso, muitos espaços políticos ocupados por legendas maiores, como composição em mesas diretoras, participação em CPIs e muitos outros espaços serão vedados ao Partido Novo, em razão da legenda não atingir a “clausula de barreira”. A solução seria a legenda se fundir a outro partido para se fortalecer e continuar existindo com plenos direitos políticos. Todavia, como a legenda sempre se achou “superior e não aprovava ninguém, quem estaria à altura de somar com os Novistas? ” Trocando em miúdos, o Partido Novo está prestes a aprender uma lição de humildade. Terá que reconhecer que agiu errado no passado quando se julgava superior e atuava isolado, e agora, fundir-se a outra legenda ou acabar por inanição.
Perda para a Política e a Imprensa
Faleceu na última segunda feira 03 de outubro de 2022, o professor e jornalista Aristides Ribas de Andrade Filho. O professor sofreu uma queda no domingo 02/10 e teve traumatismo craniano. O caso piorou na segunda, levando o saudoso professor e jornalista a óbito na segunda pela manhã. Aristides Ribas era sociólogo, professor de Ética na Faculdade de Direito de Varginha, Mestre em Ciência Política, Doutor em Filosofia do Conhecimento. Foi secretário de Turismo, diretor da TV Princesa, diretor-superintendente da Fundação Cultural de Varginha, secretário municipal de Habitação e diretor da Rádio Melodia. Também foi dirigente sindical e presidente do Partido Comunista do Brasil em Varginha.