Em Pernambuco, os desfiles de máscaras resistem à invasão mercadológica dos patrocinadores. |
A publicidade em Recife é integrada à festividade, sem descaracterizá-la. |
Os blocos do Recife se apresentam sem cordões de isolamento |
- Como foi a palestra para os estudantes da UNIS, no último dia 23 de maio?
- Foi excelente! Fiquei bastante contente com a maneira com que os estudantes manifestaram interesse pelo assunto apresentado.
- Qual foi o assunto?
- Inicialmente, tivemos oportunidade de criticar a teoria do caos como propaganda para vender periódicos e revistas importantes no País.
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- Explique-me melhor.
- Você sabe que São Paulo viveu seu dia de trauma quando a metrópole foi acuada pelas forças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o famigerado PCC. Por todo lado havia pânico e, naquela segunda-feira, tinha-se a impressão de que jamais os paulistanos voltariam a ter um cotidiano tranqüilo, tal a violência que se instalou em vários pontos da capital paulista.
- Ok, tudo isso nós vimos nos noticiários. Mas continuo sem saber o que, afinal, ocorreu no evento em que você participou com os estudantes.
Cristo da Barra, cartão postal de Salvador, desrespeitado pelos outdoors, marcas e logotipos. |
- Bom, nós apresentamos a eles as capas das principais revistas semanais que tratavam do assunto, cada qual mais dramática e apelativa do que a outra, com o evidente intuito de incrementar as suas vendas explorando a absurda situação.
- Eu também notei que as chamadas de capa das revistas e as manchetes dos jornais eram lúgubres, e que havia muito sensacionalismo ao exaltar os poderes maléficos dos atacantes.
- Pois é! Infelizmente, constatamos que alguns valores estão distorcidos, e que o tratamento pela imprensa de todo e qualquer assunto, no Brasil, tem como prioridade o lado financeiro, mesmo que em detrimento dos valores culturais, morais ou humanos. Por exemplo, façamos um comparativo entre os carnavais de Salvador e do Recife.
Galo da Madrugada durante a abertura do carnaval de Recife. 1 milhão de foliões nas ruas |
- Salvador e Recife?! O que isso tem a ver com a segunda-feira negra paulistana?
- Tudo! Em Salvador, a maior festa popular do planeta transformou-se em um palco de logotipos e de publicidade de grandes corporações que, sem escrúpulos, estão sufocando o espírito cultural das manifestações carnavalescas soteropolitanas. É triste constatar que as autoridades municipais e estaduais não têm o menor respeito pelas tradições locais e permitem que gerentes de marketing das grandes empresas, de seus escritórios, longe de Salvador, decidam como deve ocorrer o evento que, de autêntico e baiano, já não têm mais nada. Venderam a “alma carnavalesca”, o sentimento popular; sucatearam a paisagem da capital ao permitir que outdoors e cartazes publicitários invadissem o elegante horizonte da Baía de Todos os Santos...
- Sei disso! No entanto, parece que nem tudo está perdido... No Recife...
Garis se preparam para a pesada limpeza das ruas de Salvador |
- Na capital pernambucana, a alegria dos foliões corresponde ao sonho de todos aqueles que buscam autenticidade nas festas brasileiras. Inteligentemente, a Prefeitura soube aliar tradição, cultura e retorno institucional aos patrocinadores e apoiadores do carnaval ao organizar e orientar as empresas para que obedecessem às regras de publicidade dentro de uma harmonia visual que correspondesse ao tema.
Trio elétrico totalmente adesivado pela Brahma |
- Percebi, através do registro fotográfico dos dois carnavais, que certamente a Bahia está asfixiando a sua “Galinha dos Ovos de Ouro”, enquanto Pernambuco homenageia sua população com o Galo da Madrugada. No Recife, bandas de frevo e grupos de maracatu nos fazem esquecer os ruídos estridentes dos trios elétricos e do pomposo ritmo do axé baiano...
- Exatamente! E é por isso que não canso de dizer: Viva o Carnaval do Recife!
- Viva!
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