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Coluna | BRASILzão
Diego Gazola / Fábio Brito
Diego Gazola,(MTB-SP-44.350), é repórter-fotográfico.Graduado em Comunicação Social pela UMESP-SP, tem se especializado em fotojornalismo de viagens. Em cinco anos, já percorreu mais de um mil municípios em todo o Brasil para avaliação dos atrativos e documentação fotográfica dos Guias Turístico-Culturais da editora Empresa das Artes.As fotografias de Brasilzão são de sua autoria.
diegogazola@uol.com.br

Fábio Brito. Presidente da Empresa das Artes, editora com mais de 160 obras publicadas nos segmentos de turismo, meio-ambiente e cultura; de guias de viagem a livros de arte. Os textos de Brasilzão são de sua autoria.
fabiobritocritica@yahoo.com.br
 
Cai a noite. E a escuridão toma conta do Bairro da Luz
27/09/2007
 

Tentativa de manutenção da proposta original

Pintores devolvem o glamour ao antigo endereço

O bairro da Luz mal resiste à destruição de seu patrimônio

Conjunto arquitetônico que necessita de integração visual

- Por que você deseja que eu fotografe o Bairro da Luz? É um local tão decadente! Zona de tráfico e consumo de drogas, de travestis, prostitutas, moleques de rua e de trombadinhas...

-Todos esses habitantes desajustados, excluídos, são frutos de uma nação pobre, injusta, deseducada, e de uma cidade grande – exageradamente grande! –, berço de migrantes, imigrantes, descendentes dos mercenários bandeirantes, operários, artistas, estudantes, mendigos... Uma cidade que é abrigo para seres materialistas, indivíduos gananciosos, pessoas frenéticas à busca do vilão dinheiro, da riqueza material, dos bens de consumo, da agitação urbana, mas há também para aqueles que buscam alimento na vida cultural da urbe.


Belo exemplo de revitalização na esquina das ruas Mauá e Cásper
Líbero

- Cultura no Bairro da Luz?

- Sim! A começar pelas edificações belíssimas, charmosas, sóbrias! Imóveis que representam um período importante da história de São Paulo. A inauguração da via férrea, o surgimento da Estação da Luz – esplêndida em sua arquitetura inglesa –, a existência de um agradável jardim francês, o enfileiramento de construções harmônicas que se apresentam ao longo das ruas do bairro e que abrigam pensões, pequenas lojas e comércios que também retratam o que restou de uma época mais intimista, antes do advento dos grandes centros comerciais, dos shopping centers, da massificação dos bens de consumo. O Bairro da Luz resiste precariamente à fúria devastadora e destrutiva da Paulicéia Desvairada!

- É verdade! Um esforço enorme de revitalização, de recuperação dessa área nobre está, embora ainda de maneira tímida, devolvendo belezas ao bairro. Com a operação Cidade Limpa, deflagrada pelo atual prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, a proibição e remoção de toda publicidade indevida – selvagem no visual exagerado – está permitindo que desvendemos as fachadas antes ocultadas por painéis monstruosos, por faixas de propagandas clandestinas... Essas fachadas livres da poluição visual reaparecem como que ressurgindo de uma história longínqua, mas que pertence a essa cidade pulsante, acolhedora, impiedosa com aqueles que buscam nela apenas o seu sustento ou a sua sobrevivência. São Paulo oferece contatos humanos, diversidade cultural, culinária de várias origens, templos para todos os credos, melancolia para os nostálgicos e muita energia para os que nela buscam “frissons” de uma grande metrópole.

-Interessante! Vamos então propor um passeio por aquelas bandas!

-Vamos! Porém, descompromissados! Olhos atentos e mente aberta! Já na Avenida Rio Branco, por exemplo, esquina com a Rua Vitória, percebemos o imponente edifício que abriga um antigo hotel. Grades de ferro forjado, verde-musgo, fazem par com os janelões que contrastam com as paredes pintadas de uma cor amarelo-amarronzada. O edifício, de número 343, necessita ser restaurado e salvo imediatamente! Tem expressão! Já o Hotel Continental, bem mais abaixo, ocupa uma construção clássica, de linhas francesas do início do século 20, porém o letreiro exagerado ofusca a sua beleza.


Obras de expansão da Linha 4 do Metrô paulistano

-Vejo que prestou atenção aos detalhes daquela região! Vamos seguindo, então!

-Vamos. Voltemos à Avenida Rio Branco até encontrar a Avenida Duque de Caxias. Virando à direita, pouco depois chegaremos à Rua dos Andradas. Cores vibrantes reluzem nas fachadas dos casarões vizinhos, 480 e 492. Paredes amarelas compõem com portas e janelas azuis-marinhos. Uma bela morena, cabelos longos e encaracolados, aparentemente de origem árabe, acompanha o movimento dos passantes do parapeito onde está debruçada. Certamente a notar o revigoramento daquela antiga rua.

- É verdade que aos sábados você consegue ouvir um bom samba por ali?


Ousadia e bom gosto com cores expressivas

Fachada que até recentemente estava encoberta por publicidade
indevida

Ilusão de ótica ou realidade? São Paulo recupera o seu charme!

Detalhes de adornos em decoração de fachada do século 20

- O Ateliê Amarelo, um local de encontros culturais, apresenta semanalmente o Grupo Centro do Samba. A partir das 14 horas, na Rua General Osório, número 33, é só alegria! Uma alegria genuína, ao som de música brasileira.

- Pois é! Nessa mesma Rua General Osório encontramos vestígios do elegante passado da capital paulista. Repare nos edifícios de números 47, 163 e 172. Embora necessitem ser restaurados, ainda estão praticamente intocados!

- E a Rua Santa Ifigênia? Durante a semana é tão movimentada, não é mesmo?

- É bastante dinâmica durante os dias úteis. Em um domingo de lazer, parta da Avenida Duque de Caxias e vá apreciando o espetacular conjunto dos casarios de antanho, que estão recebendo tons alegres e suaves – do amarelo esmaecido ao vermelho vigoroso –, passando até pela cor negra. Observe também os palacetes, como o Helvétia, construído em 1923, o Lellis, no encontro das ruas Aurora e Santa Ifigênia... Repare também nos adornos da fachada do Shopping Etecompe que, infelizmente, ainda é parcialmente ofuscada pela placa comercial demasiado generosa e fora do espírito Cidade Limpa. Ainda nesta rua encontra-se o Hotel Timbiras, e na rua de mesmo nome, o belo Palacete Timbiras.

- Acho que você deveria também citar as belezas da Rua Mauá, o espetacular conjunto que se encontra nas dobras com a Rua Cásper Líbero. E, após registrar visualmente essa volta ao passado, cruze a Estação da Luz e se encontre face às palmeiras imperiais, às copas de árvores frondosas, e repare nos silenciosos vendedores de milho verde.

- Aí, então, faz-se noite, não é mesmo?

- Tem razão. Você estava comigo naquela tarde. O badalar do sino do relógio da estação anunciou o anoitecer. A lua – meia-lua –, em um céu rubro-alaranjado, parecia abençoar lá de cima os vendedores de churrasco grego, os transeuntes apressados, os meninos de rua, as obras faraônicas de expansão da linha 4 do Metrô Paulistano... E eu, brasileiro, fascinado e inconformado com o descaso que os habitantes têm para com seu patrimônio histórico-arquitetônico, segui caminhando lentamente.

- Foi-se o dia, deixamos a Luz.

- Seria excelente se as autoridades obrigassem os comerciantes a não deixarem o lixo entulhado nas calçadas e, definitivamente, olhassem com mais cuidado para as ruas do Triunfo e dos Gusmões. Em frente às portas, muita sujeira, mendicância e ponto de encontro para o tráfico e consumo de drogas. Um verdadeiro submundo!

- Que lástima! Essa é uma agressão que destoa do belíssimo movimento de recuperação do bairro. Porém, eu diria, foi-se o dia, mas ainda não chegou a luz para o bairro da Luz!

 
 
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