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Coluna | Periscópio
Wender Reis
wendernew@hotmail.com
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
 
A psicologia social da educação que se deixa enganar
03/12/2019
 
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É um dia comum na escola pública Professor Antônio Cândido. Há um ano, crianças, adolescentes, pais e professores contam com o apoio de uma psicóloga e um assistente social. Augusto, o assistente social, tem encontrado dificuldades em articular junto com outras instituições providências sobre os variados casos que acompanha na escola, como alunos infrequentes, alunos em situações de risco e outros. Zélia, a psicóloga, lamenta o pouco apoio das famílias e a dificuldade de desenvolver um trabalho sistematizado, pois percebe que a expectativa da escola era que o seu trabalho reduzisse a indisciplina e isso não ocorreu.

A situação fictícia descrita acima é um exercício de imaginação sobre o que possivelmente irá acontecer com a inclusão de psicólogos e assistentes sociais na educação básica. A sedutora ideia de que o ensino vai melhorar com a atuação desses profissionais dentro da escola precisa ser bem debatida, sobretudo por quem interessa mais: a própria escola. A começar pelo que se entende como demandas da psicologia e do serviço social dentro das instituições de ensino públicas. A violência nas salas de aula, bem como os casos de bullying, os altos índices de evasão estão associadas à atuação de psicólogos e assistentes sociais. Pensando por esse cenário é fácil advogar a favor da atuação multidisciplinar na educação básica, contudo a escola é parte da engrenagem e não a peça principal. Existe um déficit muito grande desses mesmos profissionais na atenção básica, tanto da saúde quanto da assistência social. Estruturas como Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) raramente atuam com contingente adequado para a demanda, deixando um vácuo enorme de atenção. 

É preciso alertar sobre os riscos de tal proposta e como a sociedade está fazendo a leitura dela, pois, pelo que se depreende das manchetes e do raso debate público, a escola vai passar atender demandas que, de antemão, não são dela. Neste sentido, é importante levar em conta que a desigualdade social tem aumentado no Brasil, pelo menos é o que indica o último estudo sobre o tema feito pelo IBGE. Isso na prática significa o aumento da pobreza, e a pobreza se retroalimenta da precariedade dos serviços públicos e a educação básica também é um serviço público. É um risco muito grande vender a ideia de que a escola pode salvar a sociedade da violência e da miséria trazendo para si demandas que, via de regra, não são suas. 

É demanda genuína da escola ensino de qualidade, é demanda da escola a qualificação dos educadores, é demanda da escola oferecer estrutura adequada para a realização das aulas, é demanda da escola promover uma educação mais democrática, é demanda da escola, mais do que nunca, ser escola. Propostas como educação integral, que tem um grande potencial de melhorar o nível de nosso ensino ainda patinam lentamente no país. Muitas escolas mal têm livros didáticos e merenda suficientes, isso para falar o mínimo, que é o básico. Enquanto a escola não for melhor como escola, ou seja, como instituição de ensino, ela não vai ser boa em outra coisa. A escola é parte da engrenagem, mas ela não é a peça principal, não pode e nem deve querer dar conta de tudo. É um autoengano que não se sustenta. 
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