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Notícias | Educação

Citado em questão no Enem, varginhense afirma: ''Tomei um susto no domingo à noite''

Por Iago Almeida | 20/01/2021 - 16:30:15

Filho do maestro Rosildo Beltrão e de Débora, Leonardo Beltrão nasceu em Varginha e mora atualmente em Belo Horizonte. Leonardo é um insistente da cultura, romântico da culinária e viajante por opção, já tendo conhecido diversos países e apresentado diversos projetos de sua autoria. 

No último domingo, o varginhense teve uma surpresa. Seu nome foi citado em uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. "Foi uma surpresa. Tomei um susto no domingo à noite, quando algumas pessoas começaram a me mandar mensagens. Primeiro, foi a filha de uma amiga, depois o filho de outra", contou ele em entrevista exclusiva ao Varginha Online.
 
Foto:Divulgação 
 
A frase “Ontem, fui dormir com saudades de mim e hoje, subitamente, voltei” fez parte de uma questão da prova do Enem. A citação pertence ao projeto #umlambepordia de autoria do Varginhense. Nascido em Varginha e radicado em Belo Horizonte, ama especialmente Istambul e Berlim, assim como todas as santês – com éssi ou com zê. Desde 2004, trabalha como gestor cultural, tendo atuado junto a instituições como Museu Inhotim, Sesc Palladium, Fundação Clóvis Salgado, Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte, e, atualmente, dirige a Através - Gestão Cultural. 
 
Em 2014, após uma viagem de um ano percorrendo lugares na Ásia, na África e na Europa, lançou A festa do adeus (Relicário Edições). Em 2015, criou o projeto #umlambepordia despretensiosamente e, em 2017, lançou o livro “Poemas de muro e amor”, uma coletânea de 120 lambe-lambes.
 
Lançamento do livro de lambes "Poemas de muro e amor" em 2017, uma coletânea de 120 lambes do #UmLambePorDia/Foto: Flávio Charchar
 
"Sobre as faltas que sinto de Varginha? São muitas... A começar pelo cigarrete, pela sodinha, pelas noites no clube de xadrez e o pernil da minha Vó Ruth!", enfatizou o cronista. Confira entrevista completa abaixo: 
 
Entrevista exclusiva
 
Como você resume a excelência que têm conquistado em sua carreira, desde que saiu de Varginha e chegou em BH?
 
Em 2021, vou completar 20 anos em BH. Saí para fazer faculdade, ainda aos 17, e acabei me envolvendo profundamente na vida cultural da capital e hoje me considero tanto de BH, quanto de Varginha. Fico lisonjeado com a “carreira de excelência”, mas não sei se é muito bem por aí (rs). Acho que tenho muito a construir ainda, sou bastante feliz em poder trabalhar com o que mais gosto (produção e gestão cultural) e, nas horas vagas, brincar de ser escritor. Criar o projeto #umlambepordia foi uma dessas brincadeiras despretensiosas, mas é incrível como acaba dando certo, né?
 
Você sabia que o Enem deste ano usaria seu talento para uma questão?
 
Não sabia! Foi uma surpresa. Tomei um susto no domingo à noite, quando algumas pessoas começaram a me mandar mensagens. Primeiro, foi a filha de uma amiga, depois o filho de outra. Quando entrei no Instagram do #umlambepordia, tinha recebido mensagens de diversos lugares do país! É impressionante o alcance do ENEM, acho que até agora não caiu a ficha e tampouco consegui entender a dimensão disso tudo.
 

Foto: Fabricia Maritan
 
Como foi para você ver que seu nome foi citado na ''maior prova universitária'' do país?
 
Foi e está sendo incrível! No começo, devo confessar que fiquei um pouco receoso, pois ainda não tinha visto a questão e desse Governo Federal a gente pode esperar qualquer coisa. Mas, depois que li a questão inteira e consegui respondê-la, fiquei bastante feliz! Muito mesmo. Acho que, no final das contas, é uma espécie de reconhecimento.
 
Me lembrei de, quando ainda bem jovem (em 99 ou 2000), participei da primeira prova do ENEM. Acho que era um grande teste ainda. 20 anos se passaram e o jovem que tentava ingressar na faculdade acabou tendo as suas palavras como referência de poesia nas ruas nesta que talvez seja a prova mais importante do país. Como não celebrar? E acabou ficando mais feliz ainda pelo dia, por esse momento tão triste e único de pandemia. 1° dia de vacinação no Brasil, quase 50% dos alunos não puderam fazer a prova, a situação de pânico em Manaus, o aumento de casos em Minas... Acho que foi um grande respiro neste dia histórico. Jamais vou esquecer.
 
Talvez o que eu possa fazer de melhor nesse momento seja agradecer. A vocês, pelo espaço dessa conversa. Aos meus pais, por sempre me darem liberdade de escolha nos caminhos e me incentivarem em tudo! À Julia, minha companheira, que também é autora de diversas frases do projeto e sempre participou de tudo. Aos professores, à minha avó Marília e ao colégio CETEM, sobretudo, por ter me proporcionado uma formação tão transversal. Queria citar vários professores, inclusive, mas vou me dar o direito de citar apenas alguns para que todos se sintam abraçados: a Tia Hilda, a minha madrinha (Rosana), a Tia Vera (que partiu no finalzinho de 2020) e a Helenice, que era professora de matemática, mas acabou me despertando para diversos outros lugares importantes na minha trajetória. Talvez na época eu não tivesse noção, mas é incrível como a matemática ainda é muito presente nessa minha vida de letras e humanas! 
 
Como surgiu a ideia para o projeto #UmLambePorDia e como você tem trabalhado nele? Como vê o retorno do pessoal?
 
Virada Cultural de Belo Horizonte, em 2016/Foto: Isis Medeiros
 
Surgiu em 2015, quando eu trabalhava no Sesc Palladium. Participei da oficina de uma artista muito bacana de SP (Laura Guimarães, do projeto Microrroteiros da Cidade) e dali a alguns minutos já colava os meus lambes no centro de BH. Gostei da brincadeira e fui moldando o meu próprio jeito de criar, até que a ideia pegou. Acho que foram colados mais de 5 mil lambe-lambes país fora (Varginha, BH, Salvador, SP e por aí vai...).
 
O #umlambepordia nunca foi o meu interesse principal de trabalho, pois sempre me dediquei mais à produção cultural. E talvez a falta daquela “obrigação de dar certo” acabou fazendo com que tudo fosse muito legal e mais leve. Consegui criar outros produtos - como ímãs de geladeira, adesivos, ecobags - e eles se espalharam pelo Brasil. Recebi encomendas até do exterior! Tanto que, em 2017, lancei o livro “Poemas de muro e amor”, uma coletânea de 120 lambes totalmente refeitos em tipografia, artesanalmente, um a um... Sou suspeito para falar, mas é um livro-objeto muito interessante. As páginas são destacáveis, cada livro é único e traz lambes em cores diferentes, enfim, é uma grande aventura no universo das artes urbanas. Aqui tem o link  do processo de criação do livro.
 
Eu amei essa história, mas acho que, de certa maneira, o lançamento da publicação encerrou o ciclo inicial do #umlambepordia e, depois, acabei me dedicando mais à cultura como um todo do que à escrita. Fui trabalhar na Secretaria Municipal de Cultura de BH, a convite do ex-ministro Juca Ferreira, e depois retomei a Através, empresa onde toco os meus projetos e de diversos parceiros. Mas, com uma repercussão dessas, com certeza está no radar o retorno do #umlambepordia. É maravilhoso perceber o poder do projeto em chegar na intimidade de cada pessoa!
 
Há alguma novidade ou algum projeto em mente para os próximos meses\anos?
 
São vários! Rs... Um deles é o Rango de Rua, festival que criei junto com o meu amigo Diego Rezende (também de Varginha) e, com a ajuda de meu pai (Rosildo Beltrão) e diversos outros agentes culturais da cidade, teve a 1ª edição realizada em 2017. A gente pretende retomar o projeto em algum momento, afinal Varginha sempre merece ideias novas e refrescantes, né? Falta apoio, falta dinheiro, falta um tanto de coisa e sobra gente querendo atrapalhar (rs...). Mas foi um festival muito legal! Também quero lançar o meu 3° livro e me dedicar mais à carreira da Julia Branco, que vai lançar o 2° disco em 2021.
 
Lançamento do livro de lambes "Poemas de muro e amor" em 2017, uma coletânea de 120 lambes do #UmLambePorDia/Foto: Flávio Charchar
 
Você saiu de Varginha e se afirma como um insistente da cultura, romântico da culinária e viajante por opção. O que você cita da cidade e de toda sua experiência com diferentes culturas? Sente falta de Varginha em algo?
 
É engraçada essa descrição, né? Vou explicar. “Insistente da cultura”, pois no país em que vivemos já é difícil para todo mundo, imagine para os profissionais de cultura, que até hoje batalham para que o setor tenha ao menos 1% do orçamento anual do Governo? A cultura hoje é esmagada por todos os outros setores da economia e é uma batalha intensa para conseguirmos sair desse lugar. Tanto que a Lei Aldir Blanc veio para (tentar) salvar aqueles que vivem da cultura e da arte no país durante a pandemia, afinal muitos estão sem renda há mais de um ano. É muito triste e esta é uma das minhas batalhas principais na vida.
 
O “romântico da culinária” é só um prazer casual de cozinhar mesmo (eu adoro!) e, por fim, o “viajante por opção”. Eu gosto muito de viajar desde pequeno e, entre 2013 e 2014, acabei fazendo uma viagem longa mundo afora. Não teve as mesmas dimensões do também varginhense Mayke (que continua viajando por aí!), mas uma experiência única para mim. Acho que cada um acaba criando o seu próprio caminho, né? Foram 14 países em um ano, passando por Europa, Ásia e África, e de certa maneira acabei gostando ainda mais de Varginha depois da viagem e nutro certa vontade de voltar. Às vezes lamento um pouco, sim, pois a cidade poderia ter muito mais investimento na área artístico-cultural, mas acaba se voltando (também) a outros setores da economia. Acho que a transformação começa na educação e na arte, só assim teremos uma sociedade mais bem preparada, segura e com boas opiniões (inclusive políticas). Então, se eu pudesse, com certeza iria avançar em políticas culturais e formação! Meu pai esteve tantos anos na linha de frente da Fundação Cultural e, ao lado de diversos outros colegas, batalhou muito para chegarmos aonde estamos. Mas todas as cidades do mundo precisam melhorar nesse quesito, sem sombra de dúvidas, então não é uma exclusividade de Varginha.
 
“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Não é isso que diz a canção? Lembro agora rapidamente da Feira da Paz, dos eventos no Melão, no Marista, no Capitólio e no VTC, as festas juninas, o Cine Rio Branco, os parques e as praças, o próprio Banho da Dorotéia, as quermesses, os bailes de carnaval e por aí vai. Varginha tem uma vocação muito boa, inclusive para uma própria retomada do carnaval (como feito a partir de 2009 em BH), então se eu pudesse contribuir de alguma maneira ficaria bastante feliz. Claro que os problemas de saúde, segurança e educação são primários e a realidade da cidade é outra, mas a arte tem um poder transformador único. Fico lembrando da Colômbia, onde a solução para a retomada recente do país foi elevar o orçamento da cultura para 15%. É impressionante como isto foi fundamental!
 
Foto: Marcella Mendes
 
E sobre as faltas que sinto de Varginha? São muitas... A começar pelo cigarrete, pela sodinha, pelas noites no clube de xadrez e o pernil da minha Vó Ruth! (rs...). Mas sinto muita falta da família, dos amigos da infância e da adolescência, de poder chegar rapidamente nos lugares, de andar de patins ou bicicleta pelas ruas do centro, de conhecer o pessoal pelo nome, de estar mais perto do meu avô Tarzan e dos meus pais. Queria ajudar mais a minha mãe (Deborah) a tocar o Ateliê também. São muitas saudades envolvidas =)
 
A Festa do Adeus surgiu após uma viagem sua no exterior. Este projeto tem um sentimento especial para você? Como foi montá-lo?
 
Escrevi o livro ao longo da viagem... E é engraçado, pois muita gente acha que é um livro de viagem. Na verdade, é uma seleção de contos que levei para terminar na viagem e acabei lançando na volta. Muita gente se surpreendeu ao lê-lo, achando que ia se deparar com relatos da viagem (rs!). Tenho um 3° livro escrito (esse sim, sobre a viagem!), que pretendo lançar um dia. Estou “mastigando” ainda, mas cada coisa no seu tempo. A experiência d’A Festa do Adeus foi incrível e muito diferente do 2° livro (o de lambes). Fiz um crowdfunding e muita gente apoiou, principalmente os amigos de infância, familiares, professores antigos. Gente tanto de BH, quanto de Varginha. Foi muito gratificante e curioso é que todos os exemplares já se foram. Não tenho mais quase nenhum livro, tanto da Festa, quanto do #umlambepordia.
 
Quer deixar uma mensagem a todos que iniciam no mesmo caminho que você e que o tem como espelho?
 
Não vou utilizar o velho clichê do “acredite nos seus sonhos”, pois as coisas em nosso país não estão fáceis. Acho que as coisas só acontecem com muito trabalho, vontade, batalha e, claro, uma pitada grande de sorte! Seguindo num caminho em que a consciência esteja tranquila, para além de tudo, muitas coisas inesperadas acabam cruzando o caminho. Hoje, vejo o quão importante foi a minha formação transversal, que acaba agregando (em grande parte) o xadrez e a matemática numa carreira prioritariamente de humanas. Ler é importante, viajar é importante, viver é importante, mas, acima de tudo, a honestidade e a sinceridade para seguir o seu próprio caminho sem passar por cima de ninguém. Espero que os jovens que fizeram a prova do ENEM neste domingo consigam trilhar uma longa estrada, espero que tenham acertado a questão do #umlambepordia (rs!) e espero, principalmente, que em breve a gente tenha a vacina para voltar a se abraçar e poder viver nas ruas. A gente faz tanta coisa na vida, mas de repente percebemos que o mais importante são os encontros, não é mesmo? 
 
Foto: Divulgação 

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