Discute-se já há algum tempo a questão da sustentabilidade, ou seja, um desenvolvimento que sustente o meio ambiente ao invés de degradá-lo. E o maior obstáculo tem sido a falta do entendimento de que o que deve ser sustentável é a vida em sua totalidade, não o desenvolvimento em si, que deveria e deve estar alicerçado em melhorar a existência humana e não colocá-la em risco. O secular analfabetismo ambiental foi que gerou essa cegueira crônica que impede o homem de ver o óbvio: todo tipo de desenvolvimento visa, em suas razões básicas, a evolução da vida humana não apenas no sentido quantitativo, e sim no aspecto qualitativo. Para refletir: mas e se esse desenvolvimento aniquila a vida do homem a quem ele serve? Que homem sobreviverá para gozar o desenvolvimento? Se alguma coisa está errada há muito tempo e ninguém quer admitir, não será porque essa cegueira já se instalou na alma humana?
Educadores, cientistas, ambientalistas, técnicos, e outros interessados sinceros na causa ambiental que é essencialmente humana também, não têm como fugir ao fato de que precisam rever seus conceitos em relação ao meio ambiente e à sua sustentabilidade. Toda a ação educativa e prática em prol do meio ambiente deve necessariamente passar pela mudança da visão linear-mecanicista de Descartes e Newton, onde o universo é visto separado em partes, para uma visão holística e ecológica cuja compreensão é a de que o universo é uma imensurável e dinâmica teia onde tudo se relaciona com tudo, digamos assim; tudo que existe contribui para a existência do todo. O meio ambiente é uma rede ou uma teia, um sistema do qual fazemos parte: há um encadeamento natural no universo e nós fazemos parte dele.
Devemos perceber, por exemplo, que quando derrubamos uma árvore é parte da nossa vida que está sendo podada, é o habitat de muitas vidas que se vai; toda a agressão ao ambiente e à sua biodiversidade refletirá a curto, médio ou logo prazo, em nosso próprio existir. Ao poluirmos a água ou degradarmos qualquer sítio, é a saúde do planeta e a nossa própria que estamos a afetar. Quando provocamos uma queimada é toda uma biodiversidade que se deteriora, são animais, insetos, um encadeamento natural que estamos a por fim. E a cada vez que essas ações se repetem ficamos mais vulneráveis em nossa sobrevivência. Se não compreendermos ou sentimos esse fenômeno é por que com certeza nos falta sabedoria, então devemos com humildade ir buscá-la através do aprendizado e de novas práticas ambientais.
Fora da alfabetização ambiental não há salvação nem para o meio ambiente nem para nós, já que estamos umbilicalmente ligados. É preciso aqui e agora, darmos um novo viés pedagógico ao estudo ecológico e às práticas preservacionistas, algo que propicie ao mesmo tempo a compreensão racional do meio ambiente e a criação de laços emocionais ou afetivos com a natureza em todas as suas formas. Basta de paliativos, de palavras ao léu, de discursos meramente políticos ou ambientalmente corretos. A responsabilidade é de todos, mas o compromisso maior é daqueles que detêm algum conhecimento, poder, coragem e competência cidadã, ferramentas necessárias para forjar uma nova consciência ecológica solidária e universal. No mais, como já cantou o poeta Taiguara: “e que as crianças cantem livres sobre os muros...”.
Boa Reflexão e viva consciente.
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