- Tenho sentido dores nas costas, início de palpitação, muita ansiedade, tosse seca, formigamento nos braços e muita, muita angustia.
- Acalme-se. O tempo está nublado. O céu acinzentado, o ar úmido, o trânsito caótico e a crise aos poucos se instala por todas as regiões brasileiras de forma dinâmica, poderosa, aliada ao dragão da inflação, aos monstros corrompidos que usurpam parte, boa parte, do erário público para roubar, desviar dinheiro, enganar a população, gerar mandos e desmandos, medidas provisórias, prisões arbitrárias ou injustas e muito “é assim mesmo”.
- “Muito é assim mesmo”? O que quer dizer com isto? Temos a impressão que as coisas não mudam no Brasil. São tantas as denúncias de corrupção, as cenas de deboche, o desrespeito às regras, o conluio, a mentira, a insensatez de um modelo econômico decadente e obsoleto - o consumo pelo consumo -, a falta de educação, a religiosidade insana crescente, a violência imperando em todos os bairros, as drogas se alastrando por todas as camadas da sociedade, a prostituição e a pornografia onipresentes no cotidiano de todos, a falta de interesse por um projeto de nação. Pobres trópicos.
- Pobres trópicos? A crise ronda todo o Planeta, sem discriminação. As ilhas da fantasia estão cada vez mais escassas. Os centros urbanos incham, o ar está poluído, a água contaminada, os campos secos e inférteis. E a nossa saúde cada vez mais precária.
- Precária é a forma como estão conduzindo este País. Sua população é ausente, alheia ao espírito cívico, distantes dos valores e atributos indispensáveis a uma nação, a uma população civilizada.
- Civilizado é um conceito inexistente atualmente no Brasil. O centro do mundo para o brasileiro comum é o seu próprio umbigo. Já não há solidariedade. As famílias se decompõem. Os amigos tornam-se raros. Os encontros sociais são “coisas do passado”. O bate-papo, a conversa interessante, a troca de idéias, o lazer cultural, o sono na rede, a leitura de um jornal na varanda, o repouso debaixo de uma mangueira, o som das gotas no telhado, o coaxar dos sapos, o murmurar dos ventos, o pio dos pássaros no breu da noite, o burburinho da corredeira (você sabe o que é uma corredeira?), o sorriso inocente, o abraço afetuoso, o rosto colado em uma dança romântica, o beijo ardente e prolongado, a sensação de amar em sua plenitude...
- Tudo isso seria coisa do passado? Os relacionamentos humanos agora são fugazes. O sexo é descartável e a amizade é oportunista. O meu cérebro, a minha alma e o meu corpo já não querem mais fazer parte deste universo. Há um vazio enorme no labirinto de meu peito. Em que mundo vivo? Em que universo estou agora?
- Você está fora do eixo. Quem é você? Aliás... quem sou eu?
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