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Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
fabiobritocritica@gmail.com
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
 
Paris e o Metrô de Paris. De Pai para Filho
10/03/2014
 
- Eram sete horas da manhã quando deixamos a estação de trem que nos acolhia,após a longa viagem de Barcelona para Paris,quando pela primeira vez em minha vida, entrei em uma estação de metrô. Parecia-me estranho estar submerso em um túnel também com trilhos semelhantes aos de ferrovia e de repente vi chegar imponente e rápido o carro-vagão com dois condutores à frente. Fiquei afoito e fiz sinal para que parasse,como teria feito ao esperar pela condução em um ponto de ônibus em São Paulo. A gargalhada foi geral... "Fábio,você não sabia que o metrô pararia sozinho?", me perguntou incrédula a companheira de viagem, a jovem argentina, Marily del Giorgio. Marily e Edgardo, este último uruguaio, me consideraram como um legitimo "macaquito", ou seja, brasileiro. Marily e Edgardo foram meus companheiros de travessia atlântica no navio Cabo San Roque que nos levou de Santos a Barcelona durante doze dias enfadonhos ( embora com momentos maravilhosos como o nascer do sol, o findar púrpuro do dia e as noites estreladas no firmamento celeste) riam sem parar de minha ignorância e insistiam em chamar-me de "hermano macaquito". 

E você meu filho, lembra-se da primeira vez em que entrou em uma estação de metrô em sua vida? 

- Se não me engano, a primeira vez que entrei em uma estação de metrô foi em São Paulo para me locomover na Linha Verde que percorre a Avenida Paulista. Meu primeiro trajeto ia desde a Estação Ana Rosa até a localizada ao pé do vão do Masp, a Estação Trianon. Ainda muito jovem, me lembro que nesta época, entre os amigos do colégio, pegar o metrô sozinho era considerado coisa de adultos. Um amigo nosso ja tinha permissão para percorrer os subterrâneos de São Paulo desacompanhado, para nossa grande admiração. Quando chegou minha vez de vivenciar mais esse rito de passagem, fiquei encantado com a praticidade deste meio de transporte. Pensava, "que legal poder ir e vir por ai tão facilmente para onde eu quiser sem precisar saber dirigir". Eu mal sabia que a malha metroviaria paulistana era tão exígua  e que meus anseios por liberdade de locomoção não seriam tão facilmente atendidos... 

 - O primeiro metrô do mundo, o London Underground, "the Tube", como o chamam popularmente os britânicos, é o mais extenso de todos. É também o mais antigo do Planeta. Foi criado em 1863 e em 1890 disponibilizou os primeiros trens elétricos aos passageiros. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Metrô de Londres serviu de refúgio aos habitantes da capital inglesa quando os alemães atacaram a metrópole. 

 

Até 2025 estarão terminadas as obras gigantescas que transformão o Metrô de Londres no mais moderno do mundo. Após Londres, Moscou e Madrid, encontra-se em quarta posição de importância em extensão o Metrô de Paris. Anteriormente estava sob a admnistração da empresa Chemin de Fer Métropolitain e daí provém a explicação para que viesse a ser chamado de metrô esse tipo de transporte urbano... Algumas entradas do Metrô de Paris, ainda originais, guardam o estilo art nouveau graças ao talento do artista e designer francês Hector Guimard que criou um dos principias símbolos emblemáticos parisienses.

A Linha 1, a mais antiga, foi inaugurada em 19 de julho de 1900. Em 1948 a empresa responsável pelo Metrô de Paris, a CMP, foi estatizada e passou a chamar-se RATP (Régie Autonome des Transports Parisiens). Alguns anos depois, em 1919, surgiu o Metrô de Madrid que foi inaugurado pelo rei Alfonso XIII. Na capital espanhola há 238 estações de metrô e em Paris há mais de 300.

Entretanto a vida subterrãnea do Metrô de Paris é um universo à parte. A Linha 1, por exemplo, vai da futurista e horrenda região de La Défense e seus edifícios de gosto arquitetônico duvidoso até o espetacular Chateau de Vincennes com suas muralhas históricas e sua espetacular capela. Existe um ambicioso projeto de extensão do Metrô de Paris, firmado em 2012, que propõe para 2030 transformá-lo também no mais completo e eficaz meio de mobilidade urbana do Planeta. Mas fico a pensar: como é a vida sob as vias pavimentadas , os edificios, praças, jardins e bosques da capital francesa? Conte-nos Yannick o que você vivencia, vê e registra diariamente ao locomover-se em sua cidade pelo metrô. 

- Realmente não é um exagero afirmar que o Metrô de Paris constitui um universo à parte, com seus personagens, habitos, cheiros e até mistérios como, por exemplo, suas estações fantasmas cujos acessos são muito procurados pelos adeptos da exploração urbana. Cada linha de metrô possui sua história e seus personagens, que vão desde seus sem-domicílio-fixo habitués que nos repetem diariamente o mesmo texto ensaiado na esperança de recolher algumas moedas, até artistas, músicos, dançarinos e poetas que vêm tentar oferecer um pouco de entretenimento aos passageiros, buscando a mesma moeda de troca. A Linha 1, como você bem indicou, é a mais antiga e é frequentada por uma mescla interessante de homens engravatados emburrados se dirigindo ao bairro empresarial de La Défense e de turistas sorridentes e sem pressa que utilisam esta linha para transitar entre alguns dos principais pontos de Paris como o museu do Louvre, a Place de la Concorde e, é claro ,a famosa Champs Elysées e seu Arco do Triunfo. A Linha 13 também faz jus a seu nome, com suas panes frequentes que complicam a vida de seus usuarios! Finalmente, a minha preferida, a Linha 6, que diferentemente das outras tem sua maior porção em via aérea, ganhou esta posição de destaque em meu ranking pessoal simplesmente por causa da passagem por cima da ponte Bir-Hakeim, entre a estação homônima e a Estação de Passy. De cinco em cinco minutos, aos transeuntes são oferecidos vinte segundos de puro espetáculo que nos fazem simplesmente esquecer que estamos atrasados para chegar ao trabalho! São nesses momentos que, em meio à correria do cotidiano, nos damos conta de que estamos em uma cidade incrivelmente bela e que às vezes, sim, o tempo para! 

 - Durante vários anos você frequentou o Metrô de São Paulo. Há alguma semelhança comportamental entre os usuários dos suburbanos pariesiense e paulistano? Mostre-nos algumas fotos suas para que tenhamos uma idéia do que ocorre ao longo desta linhas por onde transitam milhões de pessoas por ano.  

 - Diferentemente do que ocorre em São Paulo, por sua praticidade e sua malha, o Metrô de Paris constitui um dos, se não o, principais meios de locomoção da capital francesa. Arrisco dizer que, com ele, se pode chegar em qualquer ponto da cidade em menos de cinquenta minutos. Mais do que isso, ele simplesmente ritma a vida e o humor dos parisienses. Se chegamos atrasados por problemas técnicos ou greves no metrô, a qualidade do serviço do dia vai impactar direta e proporcionalmente o nosso humor matinal. O conhecido adagio francês "Métro-Boulot-Dodo" (Metrô-Trampo-Dormir) é frequentemente utilizado para resumir o cotidiano do trabalhador parisiense. Ao perguntar a alguém onde ele mora, a primeira resposta que você obtera é o "arrondissement"( bairro) de sua moradia, a segunda resposta é simplesmente a estação de metrô mais proxima de sua casa. Outro exemplo desta mescla profunda do metrô com o estilo de vida parisiense pode ser observada quando decidimos sair à noite. Duas turmas acabam se criando:os mais calmos e cansados  que pretendem voltar para casa no último metrô (o que muitas vezes genera pânico nos mais incautos que se vêem tendo que quebrar seu recorde de corrida para chegar à estacão a tempo), e os mais badalados, que afirmam ter pique para aguentar sem dormir até a saída do primeiro trem da manhã. Com os anos de vivência na Cidade Luz, o famoso mapa  da malha metroviária da  empresa RATP é gravado para sempre em nossa memória. Se houvesse um teste de mensuração de "parisianismo" de uma pessoa, o conhecimento das estações do Metrô de Paris seria muito provavelmente a prova principal. 

 Quem sabe se  um dia não poderemos  ter uma conexão tão umbilical com o Metrô de São Paulo,cidade  tão carente em transporte público de qualidade. 

 

 
 
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