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Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
fabiobritocritica@gmail.com
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
 
O Vício em São Paulo
11/01/2017
 

- Você tem algum vício?

- Vícios e virtudes se confundem, correto?

- Como???

- Após responder-te, se isso te deixa feliz, te darei uma segunda resposta,

embora eu não creia que seja um ser virtuoso. Percebo ter meus caprichos

perante a vida...

- O céu, nublado e acinzentado, prenuncia a chegada da noite ou, se

preferir, do final do dia.Os postes antigos e elegantes com

lampadárias do final do século XIX e início do século XX, enfileirados

na simbólica Avenida São João, no Centro

de São Paulo, nos remetem ao passado e nos fazem lembrar que a Cidade

era bela, bem zelada, charmosa e com arquitetura de época. Linhas

sóbrias e européias no franco-italiano de seus traços.Mas

...perguntando de novo: você tem

defeitos? Tem vícios?

- Sou moldado por imperfeições físicas e morais. Entre os defeitos, os

piores, estão a leitura compulsiva e a necessidade premente de ter a

escrita como companheira constante. Outro defeito é o de buscar enxergar

beleza por todo lado onde me encontro ;quando de minhas andanças pelo

Brasil afora, pelos ambientes soturnos, por Unidades Carcerárias que

freqüento ao proferir palestras a detentos ou durante os trajetos de

minha locomoção na urbe, em transporte público, onde transbordam

pessoas pelas portas e janelas, nos

momentos de pico da circulação coletiva de citadinos

cansados, extenuados, enraivecidos e frustrados, sem saber o por quê do

vil sentimento da opressante sensação de pertencimento ao que há de pior

em uma Metrópole mal planejada.

Nas calçadas mal pavimentadas, mal tratadas e sem estética das grandes cidades

brasileiras, desenham-se metrópoles sem cara e sem alma; deselegantes no

povoamento desordenado sem planejamento e ferozmente vilão.

O belo é o resultado da percepção do olhar, da predisposição de enxergar o

diferencial tênue ou brusco entre o bonito, o bruto, o feio, o

anti-estético e o horrível.Tudo me maravilha!

- Como você é bizarro! Sempre tentando nos convencer de que tudo é

relativo, que o belo é feio, que o mal é uma derivação do bem e que o

bem inexiste e que na infelicidade está a felicidade. Não é isso?

- Vou te responder de outra forma caso consiga expressar-me de forma

clara, objetiva e lúcida, em meu conceito de objetividade: o masoquista é

feliz no sofrimento. Estar mal lhe faz bem. O sádico se satisfaz ao

maltratar. O pio religioso assimila o sofrimento e a dor como obras

divinas para a evolução espiritual da essência humana. O assassino fica

extasiado face à beleza rubra do sangue derramado. Os artistas plásticos

transformam o horror e o terror em verdadeiras obras primas: do Dilúvio

à Primeira Guerra Mundial, da Torre de Babel ao Tsunami Lisboeta, da

Guerra de Secessão à Proclamação da Independência do Brasil às margens

do tímido riacho Ipiranga.

Cleópatra era uma désposta,

Cristo é uma lenda. Ambos estão

retratados com maestria artística nos momentos finais, lúgubres e

tétricos de suas vidas: o envenenamento através da picada de uma cobra

e o corpo mutilado na cruz.

- Cruz credo! Como de hábito você extrapolou novamente!

- Extrapolei? Eu? A Humanidade toda extrapolou ao estimular a "Guerra

Santa" para estimular o ódio, a chacina, o homicídio; e tudo em nome de

Deus,pela pretensa vontade divina para justificar de forma cruel e esdrúxula,

impiedosa, a ignorância coletiva do homem que não compreende a origem do

raciocínio, do pensamento e o porque da efêmera existência humana.

- Leio, para você, de Adalgiza Ribeiro de Paulo, habitante de Francisco

Morato, em São Paulo-SP:

“Seu nome é Maria

de vida fácil como tantas

À noite se faz vadia

é filha da boemia,

depois se torna santa.

É acorde que desencanta,

tem a Santa que rompe o dia,

Sua vergonha já não espanta,

esterco que nutre a planta.

Seu nome é Maria”

-Meu Deus, quanta blasfêmia!!! Cruz Credo!!! Fui!!!...

      

 
 
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