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Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
fabiobritocritica@gmail.com
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
 
Brasilzão Cambaleante!
03/05/2017
 

Domingo, 30 de abril de 2017, 22 horas! Véspera do feriado em homenagem ao Dia do Trabalho.

O Jardim do Ipiranga aparecia timidamente em frente à suntuosa edificação com características arquitetônicas européias e junto ao ribeirão onde, segundo rezam os relatos históricos, foi proclamada a independência do Brasil de sua famigerada madastra da Península Ibérica, Portugal.

Os tons amarelados, emanados das lâmpadas de postes que enfileirados serpenteavam até a esquina onde se encontrava um botequim popular, iluminavam as copas de frondosas árvores que pareciam adormecidas naquela noite outonal que derramava impressões visuais embaladas pela música popular e no local onde pessoas humildes e espontâneas diluiam no gargalo de garrafas de cerveja gelada as agrúrias do ser brasileiro em um país em decomposição e oprimido pela própria incompetência e falta de educação para pressentir que o caos se aproximava a galope.

A melodia em sons soltos e quase estridentes do forró ("for all"- para todos - segundo dita a lenda que elucida o nascimento deste genero musical nordestino) levaram-me a mergulhar no Brasil Profundo e as emocões me escapavam no consolidado sentimento do não pertencimento. Não faço parte de nada, não pertenço a ninguém. Não frequento e não sou frequentado. Me isolo e estou isolado. Parafraseando o jovem gênio baiano, o poeta Castro Alves, dilacero o

meu peito e profiro o grito interno do desconhecimento:

- Deus, ó Deus, onde estás que não me escutas?

Bruscamente me aconchego no sentimento de solidão e percebo os detalhes da localidade onde me encontrava: mesas escuras de madeira em contraste com o piso de cerâmica cinza claro e paredes em tons ocre com reflexos rosados e azuis no pisca-pisca de uma lámpada bizarra e giratória que distribuia de forma feérica, e pobre, o glamour miserável de um bar com pretensões a casa noturna.

No muro estava afixado um cartaz com os dizeres "Edmilson Bacana - O Swing Agitado do Forró" e, dessa forma, o Nordeste se impunha na capital paulista, noite adentro, nesta terra de migrantes (e imigrantes) em busca de uma sobrevivência digna sem abrir mãos de suas parcas e pouco profundas raizes.

Estava de novo no Brasilzão, sufocado na nação cambaleante e dispersa!

 
 
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