Ingredientes:
• Gente com complexo de inferioridade;
• Grandes veículos da mídia que rejeitem pobres;
• Um poder judiciário infantil e personalista;
• Redes sociais;
Modo de fazer:
1. Reúna pessoas que se considerem “estudadas”, “viajadas”, consumidoras de alta cultura e que, ainda assim, sintam complexo de inferioridade em relação ao ex presidente Sr. Luís Inácio, o “sem-dedo”, o “torneiro mecânico”.
2. Consuma em excesso o conteúdo de uma mídia absolutamente obcecada em ver Lula preso, menos por seus supostos crimes, e mais pelo risco que sua figura representa nas próximas eleições.
3. Se deixe afetar pelo JudiShow, onde agentes da justiça querem dar espetáculo e render audiência. A maneira mais efetiva de fazer isso é, adivinha?
4. Junte tudo isso em redes sociais e você perceberá que surgirão piadinhas esdrúxulas sobre a falta de um dedo do Lula. Coisas do tipo: "se Moro quiser ferrar com ele no interrogatório, é só mandar dizer o alfabeto ou a tabuada." E aí então teremos uma grande receita de ódio recreativo, onde gente de todos os vernizes econômicos, especialmente os que se sentem mais abastados pela fortuna, fazem de tudo para humilhar e interditar o que representa o ex presidente em um puro e genuíno complexo de inferioridade, afinal, uma pessoa só tem necessidade de humilhar outra quando se sente por baixo.
Falta leitura? Falta. Falta maturidade política e intelectual? Falta. Falta uma percepção mínima da complexidade do nosso país? Falta. Falta autocrítica? Falta. Concluo: enquanto uma parcela de brasileiros e brasileiras não matar os sinhozinhos e sinhazinhas que até hoje governam seus instintos mais bestiais, não avançaremos como nação. O linchamento de Lula, em toda a sua violência verbal, em toda a sua pobreza intelectual, em cada risinho irônico elitista, mostra o tamanho do nosso atraso.