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Coluna | Periscópio
Wender Reis
wendernew@hotmail.com
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
 
Professores em greve: entre a realidade e a utopia
20/06/2018
 
O Brasil que ficou parado por 11 dias assistiu as máquinas que trancaram as rodoviais e interromperam o abastecimento do país protagonizar a angústia do trabalhador brasileiro. Em Minas Gerais, os grandes protagonistas pelo abastecimento do futuro do país vivem um 2018 delicado e preocupante na Rede Estadual de Ensino. Antes mesmo do ano letivo começar, o governo mineiro já recebia pressão dos professores em virtude de atrasos nos pagamentos, também pelo descumprimento dos prazos na concessão dos reajustes salariais, entre outras pautas não menos importantes, como a aplicação dos recursos do FUNDEB, por exemplo. 

Como se não bastasse, o governo alega que a greve dos caminhoneiros afetou ainda mais as contas do estado, o que dificultou o pagamento dos servidores e intensificou os problemas da já delicada situação salarial dos professores. Neste contexto, é comum observarmos críticas de pais e alunos acerca do movimento grevista do professorado. E, portanto, será que nós, os professores, temos dado a devida atenção a elas? O que explica a falta de apoio da sociedade mineira ao nosso pleito? 

Para inicio de conversa, o fato de existir um coro reclamante denuncia uma clara falta de articulação e interlocução da classe com a sociedade. Lembrando que esta articulação deveria se dar através da comunidade escolar. Porquê, então, a escola tem falado tão pouco com os pais e alunos? Mais do que lamentar o questionamento dos pais acerca de nossa paralisação, deveríamos ouvir com muita atenção. Afinal, ao não debatermos com mais clareza e abrangência as consequências daquilo que nos prejudica enquanto profissionais, limitamos o pleito a uma causa exclusiva nossa. E o instrumento greve, por sua seriedade e consequências, não deveria ser imposto unilateralmente, mesmo sendo um direito constitucional. Além disso, é importante entender que talvez, repito, talvez, estejamos sendo antidemocráticos, uma vez que a cidadania e democracia que exigimos não estejamos exercendo na instituição escola. 

As negociações no colegiado, ou seja, quando as decisões sindicais chegam até o imenso grupo de representados que irão ou não cumpri-las são pouco ou quase nada rediscutidas. Geralmente se limitam a sim ou não. Greve é um instrumento importantíssimo, sim, mas está longe de ser o único. A nossa luta deve ser entendida e empreendida como muito maior que a causa imediata do salário deste mês. Pois do contrário, em vez de nos posicionarmos para uma guerra, nos diminuímos a batalhas parciais, negociando sempre os mesmos termos, em um eterno ciclo vicioso. 

Pensemos: que mudanças estruturais conseguimos para melhorar a escola e consequentemente nosso trabalho nos últimos anos? Qual é e como é a nossa ação política dentro do cotidiano escolar? Não seria mais efetivo boicotar programas retrógrados? Descumprir currículos incumpríveis diante dos recursos disponíveis na escola? 

É hora de trocar os discursos utópicos, desgastados e descolados da realidade por um olhar mais sóbrio sobre nossa ação. E isso nos impõe, por exemplo, o entendimento e aceitação de que não somos e dificilmente nos tornaremos uma classe idealmente unida. Pois em um país com orientações políticas diversas é impensável que uma greve seja um instrumento que congregue toda a classe. Somos diversos, professores conservadores, professores mais progressistas e liberais, até mesmo os mais anarquistas. 

A grande questão é: que herança deixaremos para as próximas gerações de professores? É este exemplo que queremos que eles sigam? Que espelhos seremos para os próximos?
 
 
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