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Coluna | Periscópio
Wender Reis
wendernew@hotmail.com
Wender Reis é pedagogo, mestre em Gestão Pública e Sociedade pela Unifal/MG, Analista de Educação no Sesc MG e apresentador do programa Bem Brasil na rádio Educativa Melodia FM. Atua na articulação entre educação e cultura em Varginha.
 

Sociedade dos cães raivosos: uma fábula do futuro de ontem
15/07/2018
 
Essa história originalmente foi manuscrita a caneta vermelha. Não me pergunte o motivo, honestamente não sei e, de qualquer forma, não importa. O que importa é que ser um cão nos tempos de hoje é viver sob perturbação e histeria. Em razão disso, volta e meia, me surpreendo observando com certa inveja os cães desdomesticados, aqueles que se largam nas ruas, vadiando e bebendo cachaça. Hipnotizado, tento me convencer de que eles sofrem, meu esforço é para conter meu desejo reprimido de me juntar a eles. De vez em quando, visito algum aquário para ver os peixes, eles parecem tão exatos, distintos, tranquilos, mesmo os mais ferozes. Parecem não se preocupar sobre como estão nadando, se suas cores estão no tom que supostamente a espécie exige. Tenho inveja dos peixes, eu queria ser um.

Nós, os cães, temos andado sempre com os dentes serrados a rosnar. Mesmo os filhotes que, particularmente conheço bem, pois sou um cão professor, perderam o espírito da mansidão. Curioso ser essa a minha profissão, tia Suzana, se viva, estranharia, pois nunca expliquei bem coisa alguma. Aliás, tia Suzana também não, mas ao menos um ensinamento, que só entendi postumamente, tia Suzana me deixou: ela dizia “olhe e descreva” nas aulas de produção de texto, “mas não descreva só com os olhos, descreva como o que está vendo mexe com você”. Teve um tempo que pensei que as ideias dela eram muito complexas para os filhotinhos de uma terceira série. Hoje, penso igual, mas ao menos entendo.

Olho para a raiva com que temos nos tratado e penso que nossa espécie corre um sério risco. Há quem diga que sempre fomos assim e que sempre seremos, contudo me entristece pensar que levamos tanto tempo para deixar a selvageria para a essa altura voltar a caminhar em direção a selva. Não dá para admitir que se condene a discriminação social um cão que não se interesse por uma fêmea e vice-versa. Como aceitar que os cães machos se deem o direito de decidir sobre o corpo da fêmea? É inconcebível que uma raça inteira seja apartada das mesmas condições de direitos a custa de uma falsa supremacia dos autointitulados “cães-de-bem”. 

Nossos líderes caíram desgraça, na verdade, nos derrubaram, e o que agora se vê são cães raivosos se confundindo com a sua própria raiva. Latem cada vez mais alto em busca de poder. Mas a raiva dos cães raivosos, já dizia tia Suzana, é só medo de se perder. Porém, como perder o que nunca se achou?
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