Uma longa viagem – noturna – em um ônibus que adentrava inúmeros municípios dos interiores paulista e mineiro levou-me a Igarapava, cidade quase fronteiriça nos limites de Minas Gerais e São Paulo.
Às cinco horas da manhã, encontrei-me na histórica Rodoviária – arquitetura dos anos 70 – a qual foi inaugurada pelo finado Governador Paulista, Orestes Quércia, que ficou imortalizado em uma placa de bronze onde constam os nomes de algumas autoridades e, em destaque, a do então questionado gestor público.
O dia se anunciava. Pássaros miúdos, em algazarra, denunciavam a vida pulsante naquele curioso universo – uma imensa árvore – que abrigava milhares de voadores ruidosos.
A antiga edificação, com suas luzes tênues e amareladas, apresentavam-me o diamante bruto a ser lapidado para que a aquitetônica obra se transformasse em um belíssimo exemplo de construção de época, através da beleza de suas formas, da sutileza de seus ângulos e das linhas das escadas e dos corrimões que parecem guardar segredos de passos firmes, passos afoitos, passos lentos, passos desequilibrados de, provavelmente, milhares de seres humanos que por ali passaram.
Meu coração pulsou, minha respiração ficou ofegante e meu cérebro, oxigenado, me propiciou a sensação de tristeza ao perceber ao meu redor pessoas que sobrevivem com parcos recursos com a preocupação constante do universo de despesas do dia a dia. E me submergia a sensação de desejar desbravar o desconhecido para que juntos buscássemos uma solução para enxergar os atrativos da vida pelas capacidades de inspiração, de criação, de educação e de execução.
Percebi ao lado, às cinco horas da manhã, indivíduos acuados, retraídos, entristecidos, desiludidos e com os semblantes amargurados.
Eram trabalhadores rurais, “boias frias”, que buscavam o sustento nas cidades vizinhas e esperavam, como um castigo, o ônibus que os levaria ao malfadado trabalho.
“Os poetas de minha rua têm um alfabeto simples
para a poesia rude de seus pés e mãos.
Os poetas de minha rua escavam lendas no asfalto e
rocha bruta.
Esses homens têm os rostos comuns, de comum aspereza e de vida comungada.
Os poetas de minha rua têm as mãos caboclas
escrevem poemas na terra.
Seu mundo é roçado, silencio e foice.
A lira é de suor, máquina e fuligem,
e ao fim dos trabalhos e dias
voltam às casas simples, resignados.”
- Por que lê isso? O que o deixa tão nostálgico?
- Leio porque não consigo mais enxergar o porvir desses bravos brasileiros, excluídos do direito à felicidade nesta Nação madrasta.
André Freitas Barboza, da cidade paulista de Jundiaí, também resumiu em seu poema o quão áspera e triste é a vida de grande parcela da população brasileira.