Os ciprestes pontiagudos e os campos de lavanda compunham, naquele final de tarde, o cenário idílico entre espécies vegetais adaptadas e endêmicas, com resquícios de mata atlântica.
Paineiras frondosas, floridas e grama rasteira dos campos de golfe, entremeados por vinhas e cafezais donde se avistava a magnificência de uma bela edificação com semblantes de arquitetura italiana, tudo isso no interior do Estado de São Paulo, próximo à pacata cidade de Espírito Santo do Pinhal.
Elegante, desenvolta, porte de rainha, a matriarca saboreava suas recordações sobre os seus bem vividos 90 anos e relembrava as peripécias ocorridas em sua vida. Em tempos de outrora foi o par, em uma noite de gala, do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, esposo da longeva Rainha da Inglaterra; ou do assedio inoportuno de Jânio Quadros, então governador em tempos do antanho. Ela estava jovem e era bela naqueles idos.
Estes "casos e causos" fluíam em um almoço regado a bom vinho brasileiro, suculento bacalhau e outras delícias culinárias para o deleite de todos à mesa.
Alojado em um apartado pavilhão, decorado com a devida sofisticação harmônica entre estética, originalidade e bom gosto, cedi aos anseios de ser feliz por três dias ininterruptos ao usufruir da oportunidade de ler os meus favoritos do século XIX, da França e Portugal, e me permiti a profunda sensação do bem viver. A leitura fez-se então necessária.
No breu da noite estrelada em um céu pontilhado pelas pequenas luzes de estrelas espalhadas pelo infinito do universo, trouxe para meu cérebro as sensações de deleite através das linhas escritas de Émile Zola e Eça de Queiroz. Ficou gravado para sempre em minha memória o "J'accuse" (Eu acuso!) que, supõe-se, levou à morte prematura do genial escritor francês que ousou atacar personagens e personalidades de grande importância do universo francês ao desafiar pessoas que estavam condenando, injustamente, o suposto crime de um soldado de origem judaica o qual carregava o peso de um crime que não havia cometido.
Ouvi ao longe o cantar de um galo e, próximo à janela de meu quarto, o sonoro movimento dos passarinhos. Chegava o dia ao amanhecer e ao findar da madrugada. Era Páscoa!
Momentos inesquecíveis, intensamente vividos que, por Lei da Realidade, não voltarão jamais, a não ser nos momentos tranquilos de recordações apaziguadoras.
Fui feliz por três dias!