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Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
fabiobritocritica@gmail.com
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
 
Uberaba 200 Anos : uma Cidade Violentada
15/08/2018
 
Uberaba completa 200 anos e para compreender melhor os desatinos que ocorrem por falta de conhecimento, de cultura e de sensibilidade para com a Capital do Triângulo Mineiro, faço algumas sugestões de leitura que permitirão ao uberabense e aos habitantes acolhidos de outras regiões para que percebam o mal generalizado que se instalou nos últimos 50 anos nesta outrora pacata cidade de Minas Gerais. 

Minha primeira sugestão é que o leitor penetre o conteúdo de "O Triângulo mineiro nos Oitocentos (Séculos XVIII e XIX)", livro de autoria de Edelweiss Teixeira, o qual permite uma ampla compreensão dos antecedentes históricos, o papel do Distrito do Desemboque na história de Minas Gerais, a Uberaba primitiva e a Fundação da Cidade que foi Vila e Comarca, antes de transformar-se no descosturado  que é nos dias de hoje. 

Uberaba já viveu o  seu período áureo e atualmente encontra-se em plena decadência.                                                                   

'" O Capitão Eustáquio esteve atuante na criação da Freguesia". Nasceu a 13 de junho de 1772, em Glaura e, fenômeno raro para a época, casou-se em 1823, no dia de Santo Antônio, aos 51 anos.Este nome está gravado na memória dos uberabenses que conhecem a história da cidade e o papel do Sargento-Mor Antônio Eustáquio. 

Não podemos tampouco deixar de obter dados e informações sobre o Capitão Eustáquio como Juiz de Sesmarias da Farinha Podre. ''Documento longo, mas interessante, esse do A Ponto Mineiro, onde 35 moradores da zona da Farinha Podre, subscrevem requerimento, pedindo a criação do lugar de Juiz de Sesmaria da Farinha Podre, separando do desemboque, tão distante e que o nomeado seja Capitão Eustáquio''

Tudo isso, há muitos anos atrás. 

Ainda buscando informações que nos permitam amar a trajetória da violentada e desrespeitada Uberaba, cito o livro "O Sertão da Farinha Podre - Uberaba e a Guerra do Paraguai", de Paulo Fernando Silveira. A obra inicia ao apresentar, em sua introdução, um breve resumo dos fatos mais marcantes da Guerra do Paraguai (Dezembro de 1864 - Março de 1970). Nós outros, brasileiros, em nossa arrogância, denominamos este conflito atroz como ''Guerra do Paraguai''. Os Paraguaios, entretanto, não chamam este momento de genocídio desenfreado de Guerra del Brasil e sim de La Grande Guerra."O Paraguai protesta perante o governo brasileiro contra qualquer ocupação de terras no Uruguai, sobre o protesto de que ela seria atentatória do equilíbrio dos Estados do Prata''."Em 12 de Novembro de 1864, Solano Lopes, em represaria, ordena a apreensão do vapor brasileiro, Marques de Olinda, quando navegava, pouco acima de assunção, levando a bordo o novo presidente da província do Mato Grosso''

Sempre citamos com orgulho o papel e a resistência dos Voluntários da Pátria, genuínos suicidas em nomes de atitudes desproporcionadas dos pretensos representantes dos povos, os quais  ofereceram dessa forma a sua vida ao ''Deus dará''

''Sou bravo, sou forte!

Sou filho do norte!

Meu canto de morte, guerreiros ouvem!''

O poema  I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, não se aplica à Uberaba atual, pois seus habitantes já não bradam  o grito de guerra, o grito de alarme , para salvar o seu outrora belíssimo patrimônio arquitetônico-cultural.

Regressemos no túnel do tempo e encontremos Uberaba no período auge de sua história através da saga dos pioneiros que acreditavam em um projeto de nação e introduziram o Gado Zebu no Território Brasileiro. Hoje a Nação é a maior exportadora de carne bovina do Planeta. 

Mas para compreender Uberaba ''para valer'' devemos também ler o livro de Hildebrando Pontes, "História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central" e recordemo-nos do envolvimento do ex-presidente Juscelino Kubitschek que tinha forte laço afetivo no território da cidade. Este homem, hoje idolatrado, grande frequentador de Uberaba por razões emocionais e pessoais, destruiu o sistema ferroviário brasileiro, criou uma Capital inútil no Brasil Central (nos dias de hoje, certamente, a Lava Jato já teria implodido tão espetacular pirotecnia que desrespeitou os brasileiros com o falso slogan ''50 anos em cinco'').

Todos sabemos o que simboliza esta superficial cidade (criada à revelia da população ) no panorama atual da Nação Brasileira...

Voltemos ao livro, obra espetacular de Hidelbrando de Araújo Pontes, filho do Distrito de Conquista que foi batizado em Uberaba em 17 de Março de 1879 e nos deixou, com seu legado, em 1940.Para os amantes do Desemboque, esta obra é indispensável para compreender o que ocorreu nos idos de 1788, quando imperavam as malhas de intrigas envolvendo quilombos, conquistadores e o conhecido Governo de Visconde de Barbacena. 

Continuemos curiosos e tenhamos a oportunidade de buscar, em algum local, o livro de Jorge Alberto Nabut, Desemboque Documentário Histórico e Cultural, o qual esteve desenvolvido com o apoio da Fundação Cultural de Uberaba, do Arquivo Público de Uberaba e da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Esta obra é preciosa e nos permite um passeio no caminho Barroco das Secas com imagens sacras do Desemboque e, obteremos então, informações relevantes sobre a questão de limites entre Minas e Goiás "e a questão de limites entre as duas capitanias: Minas e Goiás, pivô do qual se assentaram, por mais de meio século, todas as desarmonias e desassossego da família Desemboquence''

Ao apreciar o sumário do livro de Paulo Fernando Silveira, "A Batalha de Delta - A Revolução de 1930 e Ligeiro Panorama da Revolução Constitucionalista de 1932", passa-me pela cabeça a possibilidade de permanecer por horas no semáforo da Avenida Nove de Julho e a Rua Estados Unidos , na Capital Paulista, e perguntar aos motoristas dos carros que ali se encontram quando o ''sinal'' está vermelho: - o que ocorreu no dia 9 de julho? - Por que esta avenida chama-se Nove de Julho? Dificilmente obterei uma resposta satisfatória....

O Brasil de hoje é um país de semi-analfabetos, pois o projeto de educação, conforme dizia Darcy Ribeiro, era o deseducar. 

No livro de Paulo Fernando Silveira compreenderemos as três tentativas fracassadas de invasão da fronteira paulista e veremos também que Uberaba chegou a ser considerada a nova Capital de Minas: "Uberaba era a cidade mais importante do Triângulo Mineiro. Todas as outras tais como Araxá, Sacramento, Conquista, Conceição das Alagoas, Frutal, Araguari, Ituiutaba e Uberlândia dependiam dela, em todos os sentidos.''

Vale ressaltar a presença de outros povos imigrantes que seguiram para sedimentar suas vidas na Capital do Triângulo Mineiro. A obra de Heladir Josefina Saraiva e Silva:"Representação e Vestígio da (Des)vinculação do Triângulo Mineiro: Um estudo da imigração italiana em Uberaba, Sacramento e Conquista (1890-1920)".Neste livro nos sensibilizamos, através da pesquisa da historiadora, que revela uma das facetas da formação do povo uberabense.

Entretanto, nos dias atuais, Uberaba abriga refugiados venezuelanos, representantes de países africanos, haitianos, palestinos e pessoas que buscam nesta atual sofrida e descaracterizada cidade o seu sustento. 

Ao completar 200 anos, Uberaba desvenda alguns de seus mistérios e atrativos, como o Distrito de Peirópolis onde encontram-se ossadas de dinossauros de há mais de 200 milhões de anos atrás;Chico Xavier e o universo do espiritismo, a presença dos Zebuzeiros e comerciantes mascates de rebanho bovino, e, infelizmente, alguns vestígios do que sobrou da outrora belíssima cidade que tem sido sistematicamente destruída por maus gestores que não representam a alma da Capital Brasileira do Triângulo Mineiro. 

Nessa terra de fofoqueiros, os verdadeiros amantes de Uberaba pedem socorro para que se não destrua mais o corpo sagrado de sua cidade natal. Urge frear o desatino que corroe a alma uberabense!!!
 
 
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