De Lisboa a São Paulo.
-São quase 3 horas da manhã. No aeroporto internacional de Guarulhos as lojas estão fechadas, não há um posto de informações ao viajante, os meios de locomoção inexistem nesse horário, com exceção do serviço de táxis com preços abusivos; superiores aos de Madrid, Lisboa, Paris ou mesmo New York.
-Os espaços, vazios, abrigam alguns pedintes, mendigos ou meliantes que se aproximam de forma nada gentil, postura ameaçadora, e cientes do seu "direito" de importunar o alheio sem ser coibido.
- Penso em Lisboa, nas praças acolhedoras onde brincam crianças livres; onde pessoas adultas, da terceira idade, jogam baralho e se divertem no espaço público com o calçamento limpo, árvores frondosas e rodeado de edificações seculares, devidamente preservadas e testemunho de séculos de existência em uma nação com um denso passado cultural.
-Saio caminhando. Passo pela casa do poeta lusitano, Fernando Pessoa, e sigo em frente extasiado pelas portas e janelas amplas que denunciam um passado coeso e repleto de fatos e impressões impregnadas em paredes espessas e robustas.
-Passo por um mercado repleto de especiarias e de produtos locais, mel de abelha, azeite de oliva, sardinhas frescas, frutas diversas e legumes variados além da múltipla opção de queijos e vinhos expostos nas prateleiras.
- No bairro, próximo ao Largo do Rato, cafés charmosos, pequenos restaurantes e jardins bem cuidados e sempre próximos de alguma igreja, local de recolhimento para uma alma tranqüila.
-Folheio páginas do livro "Joaquim Nabuco, a vida dos grandes brasileiros" e deparo-me na seguinte frase: "Em 1897, também foi fundada a Academia Brasileira de Letras (que a principio se chamaria apenas Academia Brasileira). Ela nasceu, naturalmente, das reuniões da Revista Brasileira. Lúcio Mendonça foi seu iniciador, inspirador e realizador. A primeira diretoria escolhida tem Machado de Assis presidente, e Nabuco secretário perpétuo. Foi este quem sugeriu a ideia dos patronos, homenageando os grandes nomes do passado das letras nacionais. Para sua cadeira escolheu como patrono Maciel Monteiro, o pernambucano - um puro leão do norte."
-Estava ciente de que no dia seguinte voltaria à desfigurada cidade de São Paulo e encontraria pessoas tensas na espera das eleições presidenciais de um país cambaleante, vítima de uma população deseducada, obtusa, arrogante e pretensiosa, por estar ignorante...