Um homem, de 24 anos, foi preso na manhã desta quinta-feira (20/11), no bairro Nova Suiça, em Belo Horizonte, suspeito de aplicar um golpe emocional contra a companheira, além de ameaçá-la.
A Polícia Militar informou que foi acionada por vizinhos da vítima relatando que o suspeito, identificado como André Lefon Ribeiro de Souza Martins, estaria armado e proferindo ameaças contra ela no apartamento em que eles moravam. No local, o rapaz disse à PM que comprou o objeto e que seria militar do Exército.
Entenda o caso
O suspeito, que se relacionou com a vítima por 10 meses, montou uma complexa narrativa. Inicialmente, ele se apresentou como engenheiro formado pelo ITA e funcionário de uma petrolífera estrangeira. Posteriormente, ele alegou ser militar da inteligência do Exército, com a patente de capitão promovido a major, e afirmou estar prestes a cumprir uma missão da Interpol na Inglaterra.
A vítima, de 26 anos, acreditava estar em um relacionamento sério e chegou a participar de uma cerimônia falsa de casamento em setembro, com suposto juiz de paz e assinatura de papéis sem validade. O advogado da família, Marcelo Colen, afirmou que o suposto casamento serviu para que o golpista pudesse morar gratuitamente em um apartamento da família da jovem.
Durante meses, ele manteve a vítima sob um "estelionato afetivo", utilizando histórias fictícias para solicitar dinheiro para "supostos cursos, taxas militares e preparativos para a missão internacional".
À Itatiaia, a vítima relatou que o suspeito afirmou que a avó havia morrido. Ele teria entregado uma carta supostamente escrita pela avó e um anel que dizia ser da família. “Eu li a carta, chorei, fiquei muito emocionada. Ela falava bem dele e dizia que queria ter me conhecido. Junto veio o anel de noivado. Tudo isso mexeu muito comigo e me fez aceitar”, contou.
A vítima disse, ainda, que o golpe evoluiu quando o suspeito afirmou ter sido aprovado na Interpol, a polícia internacional. Para manter a mentira, o rapaz alegou que precisava realizar diversos cursos preparatórios para a missão.
Segundo o relato da mulher, os custos desses cursos, cerca de R$50 mil, foram integralmente arcados pela família dela. Além disso, a vítima acreditava que em breve se mudaria para o exterior com o companheiro e seus animais de estimação.
"Ele disse que tinha passado na Interpol e precisava fazer cursos. Esses cursos foram pagos pela minha família. Fizemos até festa de despedida porque, segundo ele, a gente iria morar fora com meus gatos”, detalhou a vítima à rádio Itatiaia.
A farsa só foi desvendada quando a mãe do suspeito desmentiu partes cruciais da história durante uma festa de despedida antes da suposta viagem internacional, levando a família da vítima a iniciar uma investigação privada. O advogado Marcelo Colen afirma que, com as informações apuradas, há indícios de que o jovem cometeu ao menos quase uma dezena de crimes, incluindo estelionato afetivo, falsificação de documento público e uso indevido de insígnias militares.
Falso médico e prisão em Varginha
As investigações conduzidas pelo advogado Marcelo Colen confirmaram que o suspeito já havia sido preso, em Varginha, no ano de 2022.
O jovem foi preso após o gerente da empresa desconfiar da documentação apresentada por ele e constatar que a área de atuação do suposto médico seria a cidade de Ponte Nova, na Zona da Mata.
Após ser acionada, a PM encontrou com o rapaz: duas identidades com o mesmo nome, porém com números de CPF diferentes; R$1.200,00 em dinheiro; cartões bancários; relatórios médicos e blocos de receita assinados por um médico que atuava em Monsenhor Paulo.
Também foi encontrado um carimbo com o número de CRM (Conselho Regional de Medicina) de um outro médico, além de uma carteirinha de estudante, uma carteira de professor de uma instituição federal de ensino.
O advogado da família em Belo Horizonte relatou que, no caso de Varginha, o suspeito tinha “carimbo, foto de jaleco, toda a narrativa montada” e que ele firmou um acordo judicial na época, confessando a prática para evitar a condenação.
O homem foi preso por ameaça, falsificação de documento público, estelionato, usurpação de função pública e uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar.