Às vezes até parece ironia, mas, não é. Mais uma vez o Hospital Regional vai mal das pernas, digo, das finanças. Além do bueiro no canto da minha rua, pelo visto há mais coisas entupidas em Varginha, e a bola da vez é o Hospital Regional que, segundo consta está entupido de dívidas já faz algum tempo. Memória curta é bobagem! Não sei se para você paciente leitor isso chega a ser novidade, mas, eu já vi esse filme há aproximadamente uma década atrás quando na ocasião fui presidente do Conselho Municipal de Saúde. Mudaram alguns personagens, outros receberam grossa maquiagem, mas, a inapetência administrativa e falta de transparência para gerenciar a coisa pública continua a fazer escola.
Na citada época, após auditoria do Ministério da Saúde solicitada pelo Conselho Municipal de Saúde por força das constantes negativas da direção do Hospital em fornecer informações sobre a situação financeira da instituição, foram constatadas inúmeras incorreções administrativas que vinham se repetindo ano após ano. Além do que havia também terceiros que se beneficiavam do uso do hospital, que na sua essência tinha o caráter filantrópico, para fins particulares. Muitos contratos de prestação de serviços ou de uso de determinados equipamentos eram, por assim dizer, draconianos, uma vez que a maior parte das receitas geradas ficavam com os particulares e as despesas com o Hospital. O valor dos aluguéis do espaço hospitalar para empresas médicas eram quase que simbólicos, já que a discrepância em relação aos preços do mercado imobiliário era abismal.
Depois de muita negociação entre o Conselho Municipal de Saúde, Câmara de Vereadores, representantes da classe médica e a Prefeitura Municipal, na ocasião administrada pelo Sr. Antônio Silva, que condicionou a ajuda financeira para resolver a crise do Hospital a mudanças na Diretoria Administrativa que, áquela época era composta por profissionais médicos, chegou-se a um consenso para, como foi dito na época, impedir que o hospital fechasse as suas portas. Foi formado um novo Conselho Administrativo composto por representantes do Conselho Municipal de Saúde, de setores e organizações da comunidade de Varginha, dos funcionários do hospital e do chamado corpo clínico. Para administrar a árdua tarefa de restabelecer o equilíbrio administrativo e financeiro do Hospital foi indicado o Sr. Mário Terra que na ocasião vinha dirigindo com bastante competência o Hospital Bom Pastor. A administração hospitalar então passou a primar pela transparência e pelo esforço político-administrativo e social em manter a instituição Hospital Regional do Sul de Minas saudável. À época todo mês era remetido ao Conselho Municipal de Saúde os relatórios administrativos e financeiros para sua apreciação e aprovação.
Para finalizar essa primeira abordagem do assunto, vale lembrar que assim como hoje, na época em tela o SUS foi escolhido como bode expiatório para justificar a crise financeira do Hospital, fato que depois se verificou não ser de todo verdadeiro, uma vez que havia uma série de incorreções administrativas que também corroboraram para agravar a situação. Portanto, uma coisa é certa, nenhuma dívida de 15 milhões de reais se faz de um dia para o outro ou de um ano para o outro. Para chegar a esse ponto faltaram competência e clareza administrativa, fiscalização e acompanhamento do Conselho Municipal de Saúde, da Câmara Municipal, da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, sendo que estes últimos, através de seus órgãos de controle e gestão, deveriam ter exigido as devidas prestações de conta dos valores destinados à instituição.
Sabe-se que na Câmara de Vereadores há uma Comissão para tratar do assunto, composta, diga-se de passagem, por dois médicos e um contador, o que realisticamente é insuficiente para um assunto de tamanha envergadura. Uma situação séria como esta exige uma auditoria independente que, tanto poderia ser solicitada pelo Conselho Municipal de Saúde junto ao setor competente do Ministério da Saúde, como pelos demais setores interessados em apurar com isenção todos os fatos pertinentes não só à dívida acumulada, mas, também, à gestão temerária da coisa pública. A priori, não se trata apenas de apontar responsabilidades, mas de encontrar soluções que denotem realismo e compromisso com a transparência na administração de uma instituição com um histórico relevante na prestação de serviços para a comunidade de Varginha e região.
No mais, agora que o tapete ficou pequeno, cabe àqueles que verdadeiramente colocam a causa pública acima dos interesses corporativos ou de grupos assemelhados, agir para que essa nova-velha página da história do Hospital Regional do Sul de Minas seja passada a limpo. Posto que, quando a uma instituição de tamanha grandeza está enferma não cabe errar o diagnóstico nem a profilaxia, muito menos usar de subterfúgios ou paliativos, sob pena de responsabilidade pelo seu óbito.
Até a próxima.
Em tempo:
* Puro atraso, transformar cargos de direção hospitalar em cargo político. O recomendável e racional é contratar um competente técnico em administração hospitalar...
* Deve ser sintomático, termos tantos médicos na atual política varginhense. Paciente é o eleitor.
* A exemplo do funcionário da Cohab, já imaginou se os médicos vereadores resolvessem atender seus pacientes eleitores nas dependências da Câmara?...
* Receita de Pizza - Dizem que é cultural: quando não se quer apurar nada, cria-se uma comissão...
* Não se espantem se alguém declarar que a dívida do Hospital Regional é culpa da crise financeira mundial...
* Como eu já havia adiantado, são prematuras as avaliações da chamada nova administração, mas, há algo preocupante no ar...
* Duas entrevistas de secretários da nova administração não trouxeram novidade alguma, é só discurso pífio. Um nem sabe o que planeja ou outro sonha com maria-fumaça...
* Enfim fez-se a luz: o melhor carnaval de Varginha acontece em Elói Mendes...
* Cidadania é...ter senso crítico!
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