Como diria Sérgio Mário Regina, ambientalista paixonado, meu bom amigo, incentivador e mestre, ao qual, através desta breve reflexão, ou indignado desabafo, aproveito para reverenciar sua memória e performance enquanto esteve conosco nessa dimensão planetária: “vá procurar entender o tal do ‘bicho homem!’”. Esse homem que do alto da sua arrogância se auto-intitula de “homo sapiens”, mas, que na verdade pela sua pobreza racional deveria chamar-se “homo burrus” ou, quando muito, “homo mulus”, com todo o respeito que como cidadão e ambientalista nutro pelos animais.
É sobre esse “bicho homem” que proponho esta reflexão nesta semana dedicada ao Meio Ambiente. Desse personagem complexo e complexado que, como bem afirma o professor Roberto de Barros Freire, da Universidade Federal do Mato Grosso: “Teme ser confundido com seres que acredita estar muito aquém de suas supostas virtudes, e acaba qualificando a sua animalidade: qualifica-a, via de regra, desqualificando as demais. Acrescenta ao substantivo animal um adjetivo confuso(para mim pretensiosamente extremado) que denomina racional, acreditando ser uma espécie de superioridade quase divina, que o deixa acima de todas as demais espécies existentes: o homem jamais aceitou o fato de ser um bicho que, como todos, dispõem de particularidades que o distingue, mas não o qualifica seja de forma superior ou inferior aos demais animais”.
È esse quase que indecifrável indivíduo que do alto do seu analfabetismo ambiental ou ecológico( embora alguns até arrotem um pretenso saber), que consegue um feito extraordinário( muito mais ordinário do que extra) de destruir o seu próprio habitat e com isso, paulatinamente, ir dizimando sua própria espécie. É ele que se considera superior e ungido pelos deuses para comandar o planeta e dele se apropriar do que lhe apetecer; é ele que produz mais lixo do que sua casa pode conter, por isso mesmo tem que deitá-lo na natureza que é a casa de todos; é ele que por força de extrair do solo o quanto mais possível, exaure a terra tornando-a estéril; é ele que, amparado naquilo que chama de desenvolvimento ou progresso, desmata todo tipo de florestas e matas, exterminado a vida que dali naturalmente se produz e se reproduz; é ele que gratuitamente polui e mata rios e nascentes para depois pagar caro para consumir burramente uma água “potável” desprovida de seus mais valorosos nutrientes; é ele que extermina animais de todas as espécies e tamanhos como um predador insano e desvairado. É ele, o “bicho homem”, o “homo burrus” que, a despeito de ser a terra a grande provedora da vida, nossa grande mãe, desrespeitosamente, fundamentado em sua inteligência que, salvo melhor juizo, já beira a extinção, se investe do papel de exterminador do passado, do presente e do futuro.
Enfim, para aqueles que ainda relutam em entender a importância da preservação ambiental, e da necessidade de aprofundarmos do debate e da prática de ações que resultem de modo inexorável na sustentabilidade econômica e sócio-ambiental, seria importante refletir ainda sobre o que nos diz Michel Serres, filósofo francês: "A Declaração dos Direitos do Homem teve o mérito de dizer ‘todos os homens têm direitos’ mas o defeito de pensar ‘só os homens têm direitos’". Custou muita luta o reconhecimento pleno dos direitos dos indígenas, dos afrodescendentes e das mulheres, como agora está exigindo, de todos nós, muito esforço o reconhecimento dos direitos da natureza, dos ecossistemas e da Mãe Terra. Vale também refletir sobre a nossa falta da percepção consciente de que “a Terra é a nossa verdadeira mãe e por isso deve ser respeitada, venerada e amada”, como nos dá clareza o admirável pensador e teólogo Leonardo Boff.
Boa Reflexão e viva consciente.
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