Costumo dizer que, devido aos trabalhos voluntários que já participei em Varginha, dos tantos anos que escrevo para jornais da cidade e palestras que faço ainda, mais pessoas me conhecem do que eu as conheço. Foi assim que um dia desses, antes das últimas chuvas, encontrei o “seu” Valdomiro, que disse me conhecer porque já tinha lido alguns artigos meus num dos jornais da cidade e me ouvido num programa de rádio.
O “seu” Valdomiro possui uma idade avançada e mora ali pelas bandas do Bom Pastor, perguntei-lhe como estava a vida e ele me respondeu: “Sabe como é né, os anos passam e a saúde vai ficando mais frágil... E agora com esse inferno das queimadas a coisa fica mais insuportável, todo anos é sempre igual”. “Pois é”, comentei. “Muda prefeito, vereadores, secretários e ninguém toma uma providência mais consequente em relação a esse problema que é grave...”.
Perguntou-me se eu sabia que nesse período de inverno que, coincidentemente é o mesmo tempo das queimadas, quase dobra a procura de crianças e idosos nos pronto-atendimento e nas policlínicas devido a problemas respiratórios. Eu respondi-lhe que sabia e que durante anos já tinha escrito e falado várias vezes sobre o assunto. “Isso é um crime que cometem contra o povo”, disse ele. “O senhor tem razão”, concordei. Aliás, não sei se sabe o leitor, promover queimadas é um crime ambiental. Inda mais no meio urbano, quando atenta contra a saúde de milhares de pessoas, muitas delas indefesas e com a saúde fragilizada como bebes, crianças e idosos.
O interessante nisso tudo, é que existe lei municipal que trata da obrigação dos proprietários em cercar e manter limpo seus terrenos urbanos e também do dever da administração municipal em fiscalizar e fazer cumprir a lei. Digo isso, porque quem não cerca e limpa suas propriedades é, de certa forma, cumplice daqueles que cometem as queimadas. Como disse “seu” Valdomiro: “Uma coisa tá ligada à outra e vice-versa”.
Sendo assim, este é mais um assunto que também está ligado à educação ambiental, que em Varginha, e alhures, inexiste. Apesar da existência de uma Lei que prevê a educação ambiental nos diversos níveis de ensino, inclusive no ambiente comunitário( Lei 9795 de abril de1999). Os poderes públicos que deveriam cumprir a Lei e os que deveriam exigir o seu cumprimento, andam de mãos dadas nessa omissão. No caso de Varginha, poderiam ser feitas campanhas educativas utilizando os meios de comunicação social disponíveis como jornal, rádio e TV, além de cartilhas educativas, palestras em escolas, faculdades, igrejas, conselhos comunitários, clubes de serviços e outros espaços públicos ou instituições. Mas falta vontade política para algo tão importante.
Voltando ao “seu” Valdomiro, depois que nos despedimos, fiquei pensando a respeito do que me dissera a respeito do “inferno das queimadas”, da fumaça que todos os anos o povo em geral tem que suportar como se fosse dado a ele apenas padecer sem se indignar. Como se já fizesse parte do nosso script aceitar o cinismo dos discursos políticos em tempos de eleição e, depois, enquanto eles, nos bastidores, se digladiam por cargos, indicações e outros tantos interesses econômicos e políticos, ficamos a nos intoxicar da falta de sensibilidade e respeito pela vida de todos nós.
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