Como o enredo de um best seller de literatura contemporânea, após sete anos preso em razão de um assassinato espetacularmente tenebroso, eis que o protagonista retorna a vida fora das grades para nos provar que a história, essa que acontece em tempo real, supera, em muito, nossa imaginação.
Contudo, é preciso olhar para algo que os holofotes da publicidade não iluminam, algo que os leitores desavisados não leem. Precisamos falar sobre Eliza Samudio.
No olho do furacão de um mercado voraz, que tudo objetifica e tudo torna consumível, Eliza Samudio, desde os 13 anos sonhava sair de sua cidade natal, Foz do Iguaçu – PR, para se tornar modelo no eixo Rio/São Paulo. Coisa que aconteceu aos seus 18 anos. A filha da pequena agricultora Sônia Fátima Silva Moura ganhou visibilidade no papel que muitas outras mulheres já estiveram, o de vítima, muitas delas fatais, como Eliza.
E por que então se faz importante lembrar seu nome e resgatar, ainda que de modo raso, sua trajetória?
Eliza é uma personagem que está faltando na história do goleiro aspirante a ídolo nacional. Se tornou objeto de um crime, perdeu sua identidade. Quem era ela, afinal? Aliás, alguém se importa? Nas vozes, que rapidamente repercutiram o retorno do goleiro aos gramados, promovendo a avalanche típica das redes sociais contra sua nova chance, já não encontramos mais Eliza.
Portanto, vale perguntar: contra o que estão indignados?
Respondo.
Contra um ídolo que traiu seus admiradores, que contrariou o curso natural das coisas. É por essa razão que a opinião pública o condena e precisamos reconhece-la.
Pois se fosse objetivamente contra seu crime, antes de tudo, precisaria estar em pauta que não se trata ainda de um caso superado, que, portanto, é preciso, sim, lembrar Eliza Samudio. É preciso falar, entre tantas outras coisas, que antes de se tornar vitima ela prestou queixa à polícia, ainda em 2009, dizendo ter sido mantida em cárcere privado pelo goleiro e seus amigos, onde foi obrigada a tomar substâncias abortivas.
Não. Definitivamente não temos uma situação superada. Nem nunca estará enquanto não nos sentarmos no divã para resolver nossas questões sociais. Ainda existem outras Elizas sendo mortas por aí. Vale lembrar que Eliza virou piada para muita gente, vale lembrar que houve muitos os que acreditaram na inocência do goleiro a época, vale lembrar que existe uma criança fruto dessa relação.
Por fim, entendam, o goleiro não foi culpado sozinho. E mais que tudo, precisamos falar sobre essa culpa.