O que ainda estamos sonhando? Em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais viciadas em si mesmas, será que é possível compartilhar nossos sonhos? Sonhar junto, é possível? Só podemos ser felizes sendo protagonistas em tudo, o tempo todo? Qual a diferença de expor e compartilhar? O diálogo e a escuta ainda são importantes?
Podemos afirmar que vivemos tempos distópicos, onde o que dizemos está cada vez mais distante do que fazemos? Seria este o tempo da “não palavra”, onde o que é dito não tem tanto valor, no sentido de estabelecer compromissos? Pode se dizer que essa perspectiva aponta para um futuro com pessoas ainda mais autocentradas, com dificuldades de estabelecer e sustentar relações? Ou seja, se a palavra falha, não falha também a percepção e a escuta do outro? Será estamos nos tornando coachs?
Mesmo entre as religiões, o que se vê são sujeitos forjando e impondo suas próprias interpretações sobre o cânone original. Isso tem dado força aos extremismos que voltaram à tona, como os supremacistas brancos americanos, o Estado Islâmico e, mesmo, boa parte das igrejas protestantes brasileiras com a Teologia da Prosperidade. O amor ao próximo que está na essência de qualquer religião tem sido relativizado, e o que era relativo tem se tornado absoluto como os preconceitos com indígenas, homossexuais e outros.
Qual a saída? Como podemos resgatar a força da palavra e qual o papel da literatura nesse sentido? Talvez, a literatura, ao contrário do mundo “TedX”, onde as soluções são apresentadas em quinze minutos, possa devolver a noção de paciência, de construção, de tempo. Escrever pode ser uma tarefa de passar a limpo a própria história, nossas memórias, nossas fantasias, etc.
Palavra é linguagem, é meio e mensagem. Escrever é um ato solitário, mas não escrevemos para nós mesmos, escrevemos para um outro. Eu sou meu principal leitor, mas não escrevo para mim mesmo, ainda que o meu leitor seja imaginário, preciso dessa presença, a presença desse leitor hipotético para construir o meu discurso e esse discurso precisa ser condizente com aquilo que eu faço. Não podemos deixar que as novas gerações cresçam sem a palavra. Precisamos estimular a imaginação, propor diálogos, propor aproximações. É preciso manter a veia aberta do diálogo. Vamos ler Eduardo Galeano, Proust, Eliane Brum. Vamos ler mais.