Uma entrevista do outro mundo

07/08/2006

Uai, sô. Mi contaro qui o pessoar da neti gostô das nossa prosa. Diz quinté curô baixo astrar. Bão caipira qui sô, fiquei meio cabrero cum tantu elogiu. Lá na roça cumpadre Irineu anda falanu qui vai virá celebridadi, tá inté apredenu iscreve o nomi pra dá uns artografo, comu diz eli. Contá proceis, por conta das terrinha queli tem lá pras bandas de Santana da Varge o coitadu anda preocupadu qui só vendu com o tar de emiéssete, tá cum medo qui os sem terra acabe invadino as roça di mandioca que pranto, inté já falei preli qui o pessoar só invadi latinfúndio, mais eli num entendeu nadica di nada, dissi qui lá na roça cachorru lati é arto, si lati fundio é cachorru da cidade. Falei qui eli é marrento, oceis nunquiz creditá, né? E pur falá nissu, ocei sabi a diferença de pitibul e redibul, é qui redibul ti dá asa e o pitibul ti mordi a asa, achô graça não?

Mudano di assunto, contá procêis um causo qui mi contaro lá na Mutuca: diz que o Pedrinho da Moranga, um caipira meio sonso, tava nu maior porri nu buteco du Vitinho, e num adivê que quandu uma procissão ia passano em frente o danadu saiu na porta e gritô: “OLHA A MANGUERA AÍ, GENTI!” O pessoar que tava rezano, manum era santo nem nada , caiu di pau neli dizeno: “num ensinaro respeita a santa, sô marducado?” A procissão rumô em frente, e lá na curva da rua a santa esbarrou no gaio duma manguera e caiu. Quando ouviu o baque o caipira saiu do bar tronxo das perna e gritô: “Eu bem qui avisei, né!” Morar da estória: donde menos se espera é qui num sai nada, né mesmu?

Falano nisso, sabe aquela prosa dus Etê, quascaí diespanto quandu fiquei sabeno qui a maior tristeza du cumpadre Birajara é nunca ter vido um Etê. Sabeno dissu inté convidei prele ir conhecê a ETermara. Lembra? aquela que a lavadera Vardinéia juro di pé juntu que morava lá pras banda du Sion. Comu o homi tava com a tar da agenda lotada, fumo entrevistá a ETermara, eu mais o Cumpadre Irineu qui foi assim meio cabrero qui só eli; inté ramu de arruda pois atrais da oreia. Chegamu lá a Vardinéia já tinha dadu conta pra Etéia que nóis era da neti “ tudo genti da meió qualidadi” , foi o qui ela dissi, fazendu ar di artista da novela das seis, num vestido verdi abacati.

Contá proceis viu, ETermara num parece cos Etê qui si vê nas revista de ufu não, parece genti quinem nóis, arta da peli branquinha qui nem açuca refinadu, uns óio azur dacor du mar(dali Tim Maia)... Cumpadre Irineu, juro proceis, tava babanu! Falei qui a genti queria fazê uma entrevista prá sabe da istória dos ET di Varginha tão faladu, ela me oiô bem di pertinho e, Deus du céu!, com uma vois qui parecia música das boa, dissi sim. Pessoar , ela é uma celebridadi mesmo, pena quiesquecemu de tirá uns retratos prá mostrá procêis. E nesse crima duqui será di nóis terráquios, nossa entrevista foi maisoumeno assim :

Sátiro: Cá pra nóis, pro mundo caipira, pra turma do Bar do Arnesto e pra Dona Tereza, é verdadi qui era seis Etê na navi qui caiu? Nada a vê cum a ponte qui caiu, viu!

ETermara: Seis na que vinha na frente, mas, tinha mais nave na nossa missão?

Irineu : Missão? Intão oceis é católico?

Sátiro: Missão num é missa grandi não cumpadre...

Irineu: Ah bão!

ETermara: Essa língua que vocês falam é nova pra mim estou gostando...

Irineu - meio empolgado - : Nosso modifalá é diferenti purquê nóis é caipira dusbão, nóis pesca, nóis pranta, nóis gosta di moda di viola, nóis reza pro Padre Vito, nóis é di raiz, o meu pai foi pião...

Sátiro: tentando aprofundar o papo, E essa tar de missão doceis?

ETermara: Uma delas era aprender a cultura de vocês...

Irineu: Di curtura nóis entendi muito, lá na roça tem curtura de café, de mandioca, di mio verde, inté di mamona por conta do biodizer...

Sátiro: Num é disso qui ela tá falano homi, eles qué sabê dus nosso curtume, si nóis curte coro de vaca, di bode, até di tilápia já tem genti curtino...

ETermara: Essa língua faz parte da cultura que nós estudamos...

Irineu: Aí, meu São Benedito! Cumpadre Sátiro eis qué istudá nossa língua, eu é qui num vô mostrá língua pra ninguém...

Etermara: Acho que vocês não estão entendendo, nós queremos saber como vocês vivem...

Irineu: Ah, bão!

Sátiro: O Cumpadre Birajara dissi qui oceis tem argo a vê com uns tar de ovini, falô prá ter cuidado qui oceis era muito feio, só qui ocê num é nada feia, expricá isso pra gente...

ETermara: Beleza ou feiúra é reflexo da mente, em muitas situações a gente vê o que quer...

Irineu: Aí, essa eu intendi, num quero vê o pessoar do emiéssetê ocupano minhas roça...

Sátiro: Isqueci o emiéssetê cumpadre, mais oqui oceis qué sabe da genti?

ETermara: Nós queremos coabitar em paz com vocês...

Irineu: Coabitá? Nóis tacostumado a côa café, tem genti quinté côa cardicana antes di bebe, mais coabitá num sei...

Sátiro: Elis qué morá, vive junto da genti cumpadre...

Irineu: Ocê vai me descurpá, mais tô achanu que esses ET tá inguarzinho o pessoar do emiessetê, tão querenu é invadi nossa casa pra morá junto di nóis, sei não, isso num vai dá certo...

Sátiro: Num é nada disso cumpadre, eles qué...

Irineu: Sei bem oqui elis qué, e ocê já ta se passano pro ladu deles, tô venu ocê virando ozóio pro lado da ETermara, parece inté qui tá infeitiçado homi, larga mão disso...

Depois dessa confusão nóis continua otra hora, agora vô acarmá o cumpadre Irineu, depois escutá umas moda di viola no cumpadre Saulo e tomá umas pincutorresmo. Ce oceis gostarô eu num sei, eu já tô gostano muito, manda um emeio pra nóis, desci du banquinho e frita uns lambari! Sô brasileiro, uai! Nóis vota manóis xinga. Tempocabô!